A quarentena da Natureza

A minha quarentena tem sido uma reflexão solitária sobre a proximidade com a Natureza.

Tive a bem-aventurança de estar numa casa com um jardim que tem árvores de fruto, flores e uma pequena horta.

Eu já estava de quarentena quando a quarentena colectiva começou, por causa de viagens e de assumir proteger os outros da exposição. Aliás, já estava na segunda quarentena, mas isso é já outra história. Por isso vou chamar quarentena a essa colectiva, aquela a que todos fomos sujeitos, e em que todos fomos sujeitos, protagonistas numa experiência nova e inicialmente assustadora mas que tanto nos ensinou.

As protagonistas principais destes dias de quarentena foram para mim abelhas, árvores e flores, em particular as flores das árvores que nesta altura do ano trazem o prenúncio dos frutos. Uma experiência única, onde mistérios sobre abelhas a morrer, um enxame a instalar-se espontaneamente no nosso jardim e todo o movimento quotidiano desse maravilhoso microcosmos que é um jardim se desenrolaram à minha frente.

Confesso que o comentário de alguém que me disse que desenhos de jardim não ilustravam uma quarentena me fez inicialmente retrair de os publicar.

Tive pudor em quebrar o sentido comum de quarentena dos que estavam fechados em casa. Eu estive fechada (ou aberta) num pequeno paraíso. 

No fim somos sempre nós os responsáveis pelo que assumimos como a nossa realidade, e a minha quarentena, vivida numa quase solidão que me ensinou tanto sobre quem sou, trouxe-me a consciência de que a partilha, seja com pessoas ou com seres da Natureza é o que alicerça e dá magia ao nosso mundo.

Começo agora, que as pessoas já se sentem um pouco mais livres para sair, a publicar os desenhos que me trazem a brisa desses dias… estes em grafite HB.

Grata aos Urban Sketchers Portugal pelo acolhedor ambiente humano que abrigam aqui.