Podemos pensar o acto de desenhar num caderno como um director de cinema pensa na câmara a filmar. Podemos fazer o paralelo entre desenhos preparatórios, rápidos, feitos como apontamentos, antes do desenho da cena geral, com os
takes, ou tomadas, que o realizador capta antes de fazer a montagem do filme. Como no processo de enquadramento da câmara a nossa atenção também é selectiva. Só incluímos no desenho o que observamos, o que sentimos, o que nos emociona. Fazemos escolhas, realçamos o que queremos, manipulamos os elementos. Também no cinema escolhemos os planos, optamos qual a profundidade de campo, montamos as cenas de maneira a dar mais ênfase ao que queremos. No cinema chama-se
zoom quando se aproxima um elemento, no desenho dizemos que damos outra escala. No cinema fazemos uma panorâmica quando a câmara roda sobre si, no desenho o nosso olhar vai de um lado ao outro. O observador/desenhador desloca-se para perceber melhor a cena que está a desenhar, no cinema a câmara movimenta-se e faz um
travelling. Já sem falar nos vários tipos de plano (
plongé, contra
plongé, plano americano, etc) que se fazem no cinema e igualmente no desenho.
Podemos dizer que desenhar é filmar e vice-versa.
(resumo baseado na proposta, recusada, feita por mim e por Karina Kuschnir ao Simpósio 2018 no Porto)
Em inglês no blog USk
Eduardo Salavisa
Karina Kuschnir
Eduardo Salavisa
Karina Kuschnir