
No outro dia entre passeatas pelo Pulo do Lobo, alí ao pé de Mértola, fui desafiado para ir à caça de romãs. Os arbustos estavam carregados mas os pássaros já lá tinham chegado primeiro. As copas estavam cheias de romãs semi-devoradas, pareciam pequenas tocas à espera de inquilinos. Colhi uma já a pensar no caderno de campo e, antes que apodrecesse ainda mais, decidi utilizá-la para o desafio desta semana. Comecei por um contorno muito leve, em mina de cor azul, só para encontrar a forma geral e proporções.

Depois intensifiquei o contorno com grafite 2B, defini a área interna cobiçada pelos pássaros, e adicionei algumas linhas de sombreado para melhor perceber os volumes e preparar a peça para a adição da cor.

Dei umas primeiras aguadas muito diluidas, nos tons base alaranjados e rosados. Isto ajudou-me a definir os padrões de cor da superfície exterior e também a perceber a melhor maneira de diferenciar a luz dentro e fora da romã.

Mais camadas de aguarela (o secador de cabelo é um bom amigo nos dias húmidos e chuvosos). Continuei a definir os volumes, luz interna e externa e, principalmente, a descobrir os verdes, azuis, amarelos e rosas, para além daquilo que, à primeira vista, pareciam ser apenas variações de carmim, laranja e castanhos.

Nesta altura comecei a sentir necessidade criar contraste entre aquilo que era a superfície externa do fruto e aquilo que era o buraco dentro do fruto. Também era preciso conferir um pouco mais e volume, contrastando igualmente as zonas iluminadas, as em sombra e as de luz reflectida. Isto foi feito com a ajuda de mais umas camadas de aguarela, linhas em grafite 4B e canetas de tinta preta Micron, da Pigma.

Nesta altura olhei para o esboço, depois para a romã, voltei ao esboço, novamente romã e descobri que faltava dar-lhe um pouco mais de vida. Adicionei alguns toques de branco para representar os brilhos da polpa decomposta e já liquefeita (com algumas moscas muito pequeninas que não paravam de me bater na cara). Isto foi feito com uma Gelly Roll branca. aproveitei para rectificar a luz geral e criar um pouco mais de interesse na textura da superfície da romã, com uns toques da Pigma e aguarela. Com a última decidi criar um fundo muito suave só para destacar um pouco mais a romã.

Finalmente rectifiquei a luta de "protagonismo" entre o interior da romã e a sua superfície externa, com uns toques de lápis-de-cor. Para terminar, voltei ao início e utilizei outra vez a mina azul com que tinha esboçado os primeiros contornos e finalizei o fundo. Desculpem se foi seca, mas deu-me tanto gozo fazer esta romã (apesar do cheiro a podre) que decidi partilhar o máximo possível das opções e materiais que usei.