Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Pé-no-Rio

Existem muitos desenhadores que colocam reticências relativamente a desenhar pessoas. Os motivos são vários. Dizem que não sabem desenhar pessoas, não se sentem à vontade, não ficam quietas, etc. 

Entre eles, existe um motivo que me parece necessitar de algum esclarecimento e tem a ver com a questão da apropriação da imagem. O tópico é polémico e “pantanoso”… No entanto gostaria de referir uma coisa importante. Existem dois direitos que entram em conflito quando falamos neste história do direito de imagem. Se por um lado existe o direito à imagem, que diz respeito ao direito que temos sobre a nossa própria imagem, por outro, e não menos importante, é o direito à representação. O facto de eu ir na rua e desenhar alguém não me coloca numa posição em que estou a violar o direito à imagem do observado. Eu estou simplesmente a gozar do meu direito à representação. A violação do direito à imagem coloca-se consoanto o uso que é dado posteriormente às representações (seja desenho, fotografia, áudio-visual, etc).

 Ou seja, podem desenhar o que quiserem… tenham é cuidado com aquilo que fazem depois com essas imagens. Estes dois registos foram feitos na esplanada do Pé-no-Rio. Esposende, Portugal, 22.09.2012

8 comentários:

hfm disse...

Gostei da reflexão. Dos desenhos também.

nelson paciencia disse...

Obrigado Tiago pelo teu comentário no meu post, e pelos teus esclarecimentos sobre o desenho de pessoas.

Como disse, o meu problema em desenhar pessoas reside essencialmente na técnica, que ainda me coloca dificuldades, daí a necessidade de treinar diariamente, que é aquilo que tenho feito de uma forma quase compulsiva.

Bem sei que desenhar alguém não tem uma conotação igual a tirar uma fotografia sem autorização, o nosso registo de desenho é sempre mais abstracto, sem dúvida, mas também sabes que existem pessoas que quando se apercebem que estão a ser desenhadas se sentem desconfortáveis, e esse desconforto passa também para o lado de cá, reflectindo-se no papel e na caneta. Sem estar totalmente descomprometido e descontraído, dificilmente os desenhos me saem bem. No meu caso particular, já tive dois casos (ambos no metro)em que a pessoa observada e a ser desenhada, se levantou e mudou de sítio. E sinto que estavam no seu direito.

nelson paciencia

J.Espadaneira disse...

Há cerca de um ano estava eu a desenhar pessoas num festival de verão quando me apercebi que estava a ser filmado. Depressa parei de desenhar ofendido por alguém me estar a filmar assim, sem pedir licença! Depois deu-se o "click"...
Hey! Era exactamente aquilo que eu estava a fazer!

Tiago Cruz disse...

Obrigado pelos vossos comentários!

Uma coisa é o que acham em termos éticos, outra é em termos jurídicos. O meu esclarecimento prende-se com os termos jurídicos. Ninguém vos pode processar só porque estão a fazer um desenho de alguém na rua… a minha observação vai no sentido de vos proteger enquanto autores de imagens, enquanto sujeitos que gozam do direito à representação.

Claro que se o observado não estiver à vontade com isso, vocês podem (e devem) respeitar essa vontade, independentemente daquilo que diz a lei.

Eu pessoalmente não me importo de ser fotografado, filmado ou desenhado. A forma como usam depois essas imagens no espaço público já é outra história…

Urban Sketchers Portugal disse...

Tiago, o esclarecimento que deste está completamente correto. Já estive a desenhar num tribunal e tive uma boa conversa com o juiz onde pude esclarecer exatamente isso.

Obrigado pelo contributo!

Maria Celeste disse...

...muito útil todos estes esclarecimentos...
...pensei também que, de uma maneira geral,o bom senso está presente em todos os sketchers...

Eduardo Salavisa disse...

Mas o desenho não é aquela pessoa. Como diz o outro "isto não é uma pessoa" ou "um cachimbo".

Tiago Cruz disse...

Obrigado pelos vossos comentários!

Exactamente Eduardo… São apenas não-pessoas… :) Aliás, se tivéssemos bem presente aquilo que é uma representação (ela não é a coisa, mas sim a representação da coisa) provavelmente ficaríamos muito menos ofendidos quando alguém faz um registo nosso.

Será que é por confundirem a coisa com a sua representação que as pessoas ficam ofendidas? Talvez…