Existem muitos desenhadores que colocam reticências relativamente a desenhar pessoas. Os motivos são vários. Dizem que não sabem desenhar pessoas, não se sentem à vontade, não ficam quietas, etc.
Entre eles, existe um motivo que me parece necessitar de algum esclarecimento e tem a ver com a questão da apropriação da imagem. O tópico é polémico e “pantanoso”… No entanto gostaria de referir uma coisa importante. Existem dois direitos que entram em conflito quando falamos neste história do direito de imagem. Se por um lado existe o direito à imagem, que diz respeito ao direito que temos sobre a nossa própria imagem, por outro, e não menos importante, é o direito à representação. O facto de eu ir na rua e desenhar alguém não me coloca numa posição em que estou a violar o direito à imagem do observado. Eu estou simplesmente a gozar do meu direito à representação. A violação do direito à imagem coloca-se consoanto o uso que é dado posteriormente às representações (seja desenho, fotografia, áudio-visual, etc).
Ou seja, podem desenhar o que quiserem… tenham é cuidado com aquilo que fazem depois com essas imagens. Estes dois registos foram feitos na esplanada do Pé-no-Rio. Esposende, Portugal, 22.09.2012
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Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.
John Ruskin, intelectual inglês do século XIX
Pensamos que o Diário Gráfico melhora a nossa observação, faz-nos desenhar mais e o compromisso de colaborar num blogue ainda mais acentua esse facto. A única condição para colaborar neste blogue é usar como suporte um caderno, bloco ou objecto semelhante: o Diário Gráfico.
Neste blogue só se publicam desenhos feitos de observação e no sítio
8 comentários:
Gostei da reflexão. Dos desenhos também.
Obrigado Tiago pelo teu comentário no meu post, e pelos teus esclarecimentos sobre o desenho de pessoas.
Como disse, o meu problema em desenhar pessoas reside essencialmente na técnica, que ainda me coloca dificuldades, daí a necessidade de treinar diariamente, que é aquilo que tenho feito de uma forma quase compulsiva.
Bem sei que desenhar alguém não tem uma conotação igual a tirar uma fotografia sem autorização, o nosso registo de desenho é sempre mais abstracto, sem dúvida, mas também sabes que existem pessoas que quando se apercebem que estão a ser desenhadas se sentem desconfortáveis, e esse desconforto passa também para o lado de cá, reflectindo-se no papel e na caneta. Sem estar totalmente descomprometido e descontraído, dificilmente os desenhos me saem bem. No meu caso particular, já tive dois casos (ambos no metro)em que a pessoa observada e a ser desenhada, se levantou e mudou de sítio. E sinto que estavam no seu direito.
nelson paciencia
Há cerca de um ano estava eu a desenhar pessoas num festival de verão quando me apercebi que estava a ser filmado. Depressa parei de desenhar ofendido por alguém me estar a filmar assim, sem pedir licença! Depois deu-se o "click"...
Hey! Era exactamente aquilo que eu estava a fazer!
Obrigado pelos vossos comentários!
Uma coisa é o que acham em termos éticos, outra é em termos jurídicos. O meu esclarecimento prende-se com os termos jurídicos. Ninguém vos pode processar só porque estão a fazer um desenho de alguém na rua… a minha observação vai no sentido de vos proteger enquanto autores de imagens, enquanto sujeitos que gozam do direito à representação.
Claro que se o observado não estiver à vontade com isso, vocês podem (e devem) respeitar essa vontade, independentemente daquilo que diz a lei.
Eu pessoalmente não me importo de ser fotografado, filmado ou desenhado. A forma como usam depois essas imagens no espaço público já é outra história…
Tiago, o esclarecimento que deste está completamente correto. Já estive a desenhar num tribunal e tive uma boa conversa com o juiz onde pude esclarecer exatamente isso.
Obrigado pelo contributo!
...muito útil todos estes esclarecimentos...
...pensei também que, de uma maneira geral,o bom senso está presente em todos os sketchers...
Mas o desenho não é aquela pessoa. Como diz o outro "isto não é uma pessoa" ou "um cachimbo".
Obrigado pelos vossos comentários!
Exactamente Eduardo… São apenas não-pessoas… :) Aliás, se tivéssemos bem presente aquilo que é uma representação (ela não é a coisa, mas sim a representação da coisa) provavelmente ficaríamos muito menos ofendidos quando alguém faz um registo nosso.
Será que é por confundirem a coisa com a sua representação que as pessoas ficam ofendidas? Talvez…
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