Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX

Pensamos que o Diário Gráfico melhora a nossa observação, faz-nos desenhar mais e o compromisso de colaborar num blogue ainda mais acentua esse facto. A única condição para colaborar neste blogue é usar como suporte um caderno, bloco ou objecto semelhante: o Diário Gráfico.

Neste blogue só se publicam desenhos feitos de observação e no sítio

domingo, 1 de julho de 2018

Agenda dos Sketchers - Julho 2018

Editorial

Com o Symposium do Porto a bater à porta fomos perguntar ao Pedro Loureiro as suas expectativas para o evento e aproveitámos para o entrevistar para a Agenda deste mês.
Lembramos a quem passar pelo Porto nos dias do evento que no recinto do Symposium, localizado na Alfândega do Porto, pode abastecer-se no mercado de materiais de arte ou visitar a exposição de desenhos do Sketch Tour Portugal.
Fomos também ao Seixal conhecer a associação cultural L1B onde mensalmente a Manuela Rolão orienta uma oficina de desenho em cadernos e demos um pulo até Ponte da Barca para recolher o relato da Sara Simões sobre a sua Residência Artística.
Até ao próximo mês e bons desenhos!
A equipa da Agenda

AGENDA DOS SKETCHERS
Julho 2018

Do Porto para o mundo
Por Pedro Loureiro

Uma cidade fica diferente durante um Simpósio USk. As ruas e praças polvilham-se de desenhadores a cada esquina; madrugadores e noctívagos, isolados ou gregários, metódicos ou espontâneos. A cidade é vivida e registada de 800 formas diferentes, e por osmose, cada desenhador ganha a visão de todos os outros.
No Porto, na ilustre companhia do José Louro, do João Catarino, e de outros tantos desenhadores que me habituei a admirar (e às vezes imitar), terei a honra de ser formador de um workshop. Mas durante um Simpósio, os papéis pré-definidos rapidamente se diluem, e no final, todos se tornam formadores, correspondentes e participantes uns dos outros. A partilha é a palavra de ordem, a generosidade e camaradagem entre sketchers sem fronteiras atinge o auge no Simpósio. Qualquer sketcher está sujeito a aprender e a ensinar algo a todos, e a juntar a sua faísca à energia colectiva que se gera sempre neste evento anual.
Com este estado mental, um bom caderno, uma caneta e umas aguarelas, antecipo uns dias estupendos na invicta! Espero que todos os participantes, e sobretudo todos os estreantes, tragam com eles este espírito tão característico do Simpósio.

Desenhar o (e no) Seixal
Por M anuela Rolão

Sou membro da L1B associação cultural desde a sua fundação em 2012. A
L1B tem desenvolvido projectos de índole social, cultural e artística. A sua
recentíssima sede, no coração do núcleo urbano antigo do Seixal, apresenta o
formato de uma galeria dinâmica, que artistas e artesãos usam como atelier e
espaço de exposição. O Seixal e as suas paisagens são o tema privilegiado,
assim como a utilização de matérias naturais locais.
O meu contributo tem sido a formação em desenho em cadernos, explorando
os locais de interesse natural e patrimonial do Seixal, por vezes em parceria
com o Ecomuseu Municipal. Este ano, com a colaboração da Câmara
Municipal, desenvolvo o projecto 10 meses 10 temas para desenhar na Quinta
da Fidalga, realizando uma oficina por mês num espaço único e muito
“graficogénico”. Cada oficina ocorre no segundo sábado de cada mês e inclui
um caderno construído artesanalmente. Em julho, excecionalmente, haverá
duas, sob os temas CALOR e SOMBRAS. Mais informação em:
www.facebook.com/l1bassociacaocultural ou através de l1b.geral@gmail.com

Residência Artística em Ponte da Barca - 1 a 5 de Junho de 2018
Por Sara Simões

Terra nutrida pela generosidade do rio Lima, protegida por montes enevoados, ornada de tesouros silvestres.
O céu cor de chumbo, em vez de despertar cautela, desafia a trazer a poesia da luz ao caderno, refugiado da chuva sob carvalhos e castanheiros monumentais.
A povoação é pequena e dá-se-lhe a volta rapidamente mas surpreende pela
vivacidade do comércio e da animação. Há uma história inscrita no granito e quero capturá-lo a branco e a preto sobre papel castanho.
Sou atraída - irresistivelmente - a aguarelar a exuberância cromática da vegetação das margens. Caminho até Bravães, vestígio românico que expõe a nossa pequenez ao firmamento.
Reflito sobre a identidade urbansketcher e contrario a minha tendência para focar a natureza e omitir elementos urbanos. Rendo-me à realidade de uma rotunda para enquadrar o pitoresco da paisagem, agradada pelo esmero com que o espaço urbano é ajardinado.
Determino o melhor local para registar a vista da localidade com a ponte sobre o Lima.
Instalo-me num talude sobre uma horta primorosa com vinhas e roseiras no auge da floração. Temo deixar cair o material às batateiras enquanto permaneço seca graças aos impermeáveis. O guarda-chuva mínimo protege-me a cabeça mas não chega para a aguarela, que se dilui no papel.
Que riqueza, poder trazer no caderno a memória dos cheiros a ervas, da humidade, dos chilreios e da rugosidade da cantaria!

Entrevista a Pedro Loureiro

O P edro é o associado nº 102, ilustrador de arquitectura e vive em Lisboa. Agora que deixou a coordenação da Agenda chegou a vez dele de ser o entrevistado do mês.
Há quanto tempo desenhas?
Desenho desde miúdo, como quase toda a gente. Mas foi no curso de arquitectura que comecei a desenhar à vista. A professora de desenho fez-nos usar um diário gráfico, e desde então nunca mais o larguei.
Há quanto tempo és USk?
O meu primeiro post no blogue dos USkP é de Junho de 2010. Fui incentivado a publicar pelo meu amigo PeF, com quem comecei a partilhar os meus diários gráficos muito antes.
O que/quem mais inspira os teus desenhos?
A vontade de contar uma boa história. Sou um péssimo contador, mas através do desenho parece mais fácil. Por isso, continuo a ler, a reler e a tentar imitar o mestre Hugo Pratt.
O encontro USk mais marcante?
O 10º Encontro, da Rua Augusta, foi impressionante por ser o meu primeiro e ter tanta gente envolvida. Mas o Simpósio em Lisboa foi definitivamente um momento de viragem para mim - foi onde conheci malta que me colocou fora da zona de conforto. É nessas alturas que mais se evolui.
Que materiais preferes usar?
Ultimamente, dou preferência aos cadernos de aguarela da Hahnemühle, para os bons desenhos, e aos da Tiger para as experiências; canetas de aparo - a actual é a Wingsung 3008, caneta chinesa descoberta pelo Pedro Alves - carregadas com tinta impermeável; e aguarelas com bons pincéis.

Pedro Loureiro desenhado por Miguel SIlva

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Desafio 90 - Antropização da natureza

O desenho mais comentado no desafio do mês de Junho é da autoria da Fernanda Fernandes. E como Julho é o mês do Symposium nada melhor que um desenho do Passeio das Virtudes no Porto.