Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


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domingo, 7 de agosto de 2016

Simpósio USk Manchester 2016_ Dia 3 (parte 1)

E, irremediavelmente, chegou o último dia do simpósio! Já estava tão rotinado naquelas ruas, naquelas caras, naqueles espaços, que de repente me dei conta que ia acabar. Era a última oportunidade de aproveitar tantos workshops interessantíssimos, e como escolher agora? O que privilegiar? Desenhar espaços a 360º, desenhar pessoas em movimento, trabalhar com a luz dramática?

Acabei por me decidir por uma vertente que claramente não domino: pintura a aguarela. Num ímpeto, deparo-me com a Marion Rivolier e lembrei-me da observação do Pedro Loureiro que, apesar de ter passado de raspão no workshop dela, disse que "nunca mais iria pintar da mesma maneira". Como se houvesse um antes e um depois da Marion.
E, percebi depois, talvez o Mário Linhares e a Fernanda Lamelas possam dizer o mesmo, já que também fizeram o mesmo workshop.

Chamava-se "Paint like nobody´s watching" e pensei eu que se iria trabalhar apelando à nossa liberdade e expressão própria. Ou seja, iria pintar descomplexado, solto de pressupostos e sem preocupações. Mas não! E ainda bem. Logo a seguir fui percebendo que ía ficar bem longe das lambidelas de cor que costumo dar nos desenhos.
A Marion leva mesmo a sério a pintura a aguarela. Começou por nos apresentar pelos seus nomes completos as cores que iríamos utilizar: uns azuis cerúlios, uns vermelhos cadmiuns e vermillions, uns indigos, uns sienas, etc. De seguida fez questão de ver a caixa de aguarelas de cada um para procurar equivalentes da sua paleta e, como se não bastasse, ainda avaliou a qualidade do papel de cada caderno, a sua gramagem e textura e mesmo os pincéis que tínhamos. Como habitualmente subestimo estes detalhes, comecei a perceber do discurso da Marion como são relevantes para obter resultados satisfatórios.


Após a análise da cena quanto ao primeiro plano (foreground), plano médio (middle-ground), plano de fundo (background) e plano distante , Marion pediu-nos para representar cada um destes planos com grandes manchas de cores quentes e cores frias, sem detalhes e variando a intensidade (diluição) da aguarela, embora para minha surpresa fosse indiferente representar o primeiro plano em escuro ou em claro.


A experimentação continuou, primeiro alternando frias e quentes e depois introduzindo os "values" (sombras?) para trabalhar a profundidade e os volumes.


No exercício seguinte foi-nos permitido introduzir alguns detalhes alargando a dimensão do desenho.


No final do workshop sobrou-nos apenas 35 minutos para o "grande momento", onde poríamos em prática tudo o que tínhamos trabalhado, utilizando as cores "reais" da cena. O tempo reduzido ajudou-me a soltar os gestos e, no fim, fiquei mesmo surpreendido comigo.
Sem dúvida que valeu a pena!



3 comentários:

Ana Crispim disse...

Excelente resultado.E com tudo tão bem explicado, vou já experimentar

Rosário disse...

Excelente resultado e também gosto muito do trabalho dela e contigo resultou! O que eu fiz em Barcelona correu-me muito mal e desde logo começou por não levar o papel adequado (além de outras coisas)que é importantíssimo num workshop com a Marion!

USkP Convidado disse...

O que eu gosto das tuas explicações detalhadas, muitíssimo bem organizadas, uma verdadeira partilha.
Muito obrigada. Também vou experimentar!
(estás muito bem no blog da Marion :))
Celeste Vaz Ferreira