Foi o local do meu primeiro workshop do simpósio, com a italiana Simonetta Capecchi e sob o tema "The sketched reportage". Fomos recebidos pelo simpático Adriano, o responsável pela produção, e que ali trabalha desde 2010. A ideia era desenhar o processo de produção da cachaça, desde a trituração e moagem da cana do açúcar, extraindo um suco verde chamado de caldo (e que provámos acabadinho de extrair, absolutamente delicioso), que segue para as dornas de fermentação e é destilado depois no alambique, obtendo o delicioso néctar. Acho que desenhei tudo o que queria, incluindo um pequeno banco de madeira muito velho e desengonçado, meio escondido por entre os barris que envelheciam a cachaça, e que me fez lembrar um que o meu avô carpinteiro construiu e que ainda hoje existe. Estava a começar o desenho quando a Jessie Chapman, uma simpática americana que faz parte do comité dos USK, se atravessou na minha frente e se decidiu a sentar no banco. Olhou para ele com medo, achei que percebesse que não era seguro. Esperei que desistisse e me deixasse acabar o desenho. Não desistiu, e acabou por sentar-se para desenhar o alambique, ou outra coisa qualquer. Não acabei o meu desenho.
Encostado ao balcão, e enquanto chovia torrencialmente, decidimos perguntar ao Adriano se podíamos provar as diferentes cachaças produzidas, seis no total. Provei três delas, a prata, a carvalho, e finalmente a Gabriela, baptizada assim depois de o filme com o mesmo nome ter sido rodado em Paraty. Gostei de todas, mas disse ao Adriano que não poderia levar uma garrafa comigo porque não tinha bagagem de porão, e na cabine nunca deixariam levar. Contei-lhe que à treze anos atrás regressava do Brasil com uma garrafa de cachaça pelo meio das roupas na mala de porão, que se partiu durante a viagem estragando tudo. Disse-me o Adriano divertido:
"Estragando tudo? As roupas ficaram foi felizes..."
Rimos que nem uns perdidos. Olhei para o lado e vi o banco de madeira sozinho. Bebi o último golo de cachaça e acabei finalmente o desenho.
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12 comentários:
Gosto das histórias que se escondem nos desenhos.
...e como se desenha nos trópicos...
...até banquinhos de madeira...
gostei da reportagem :)
Uma delícia de reportagem com as estórias e o desenho com a qualidade das melhores cachaças.
Há uns anos, na volta da viagem de finalistas de Cuba, um colega meu também ficou com a roupa "feliz" mas com uma garrafa de rum.
Quando é que vemos essa reportagem?
Quando quiserem!
Muito bom!!
Confesso que ainda não acabei de ler toda "estória", mas irei fazê-lo. Uma grande reportagem, cheia de cor e de vida. Até fez-me recordar a música de há muito tempo "Vc pensa que a cachaça é água?".Da música será cantada ao vivo pelo autor desta descrição.
Gosto de ver as tuas histórias de Paraty neste blog!
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Bela reportagem, Nelson!
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