As pessoas presentes neste jantar comunitário, que vivem na rua ou em situações muito precárias, são, para as outras, como se fossem “invisíveis”. As pessoas passam por eles e olham para o lado, não as querem ver, no fundo não querem ser confrontadas com aquele outro. Alfredo, o responsável pela Associação “Serve the City” convidou-nos para nós, segundo disse, tornámo-los “visíveis”. Para os desenharmos temos que olhar muitas vezes, temos que observar todos os pormenores, as suas expressões, como se vestem, os seus gestos. Serem o objecto, pelo menos durante uns minutos, da nossa (máxima) atenção.
A meio do jantar consegui um lugar numa mesa. Chamou-me a atenção um senhor que abriu uma pasta e mostrava desenhos aos outros companheiros de mesa. O pintor é o Dacosta (nome artístico de Vítor da Costa) com quem conversei sobre os seus recentes êxitos artísticos. Ao meu lado esquerdo estava Tito, que veio de África já adulto e vive em Carcavelos, perto da praia, o sítio mais parecido com o lugar de onde veio. Do lado direito o Luca, geógrafo italiano que está cá a estudar os tremores de terra. O Joaquim estava mais atento à comida e a Sandra era muito simpática. O Rodrigues e o Carlos eram homens calados que só observavam.
No fim do jantar comprei uma pintura ao Dacosta. Intitulada "O delicioso lugar de estar" e que podem ver aqui. O suporte em papel, técnica mista, um abstracto. Para ele é África, a sua origem, com rios, pássaros, o sol a pôr-se, árvores, tudo o que nós quisermos que lá esteja.
9 comentários:
Belíssima reportagem.
Ficaram incríveis Eduardo. O último fecha com chave de ouro!
Uma boa reportagem sem esquecer os nomes das pessoas invisíveis!
Grande
que optimo post!
Que maravilha, Eduardo!
Além dos desenhos, adorei o teu texto. Que sorte teres podido essa proximidade!
Que grande reportagem... e a experiência então..
Gostei muito dos desenhos e do relato escrito. Que interessante experiência e partilha! Fui ver a pintura do Dacosta ao teu blogue.
Bonita reportagem, adorei este projeto!
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