Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Natal é o Amor com que acarinhamos a vida todos os dias





No dia 23 de Dezembro comecei a pensar qual seria a imagem que traduziria o que este ano estava a sentir em relação ao Natal, para fazer um desenho de votos natalícios.
Olhei pela janela e vi o rebanho de ovelhas que quotidianamente embeleza os meus dias e lembrei-me de quando, em criança, fazia o presépio com o meu pai, com pequenas figuras de barro e nesse presépio existiam ovelhas e pastores.
Nesse presépio haviam montes feitos de grandes pedras que trazíamos da rua, e nesses montes nascia um rio, um rio prateado, feito com pratas de chocolate que guardávamos para esse fim e que eu alisava muito bem e encaixava umas nas outras para parecerem um curso de água, e uma ou duas pontes, também em barro, sobre o rio. As margens eram feitas de musgo, que se estendia até aos montes. Musgo que recolhíamos no monte perto de nossa casa,
Eu adorava colocar cada pastor, com as suas ovelhas e cabras, dirigindo-se para o local de nascimento do menino Jesus. Uns estavam já próximos, esperando a sua vez de adorar o menino e outros ainda estavam a caminho, e havia algumas ovelhas que com o seu pastor ainda não tinham passado a ponte, que ainda vinham ao longe. E assim construía o percurso que os personagens percorriam para chegar ao lugar almejado.
Lembro-me de que por haver uma diferença de proporção entre o tamanho das figuras humanas e animais e os elementos de arquitectura e a paisagem envolvente tinha de ter cuidado em como colocava uns elementos ao pé dos outros para que fizessem sentido quando olhávamos o conjunto...  Agora compreendo que nesse tempo me movia já na procura de harmonia de uma composição.

Bem... lembro-me de estar a colocar as ovelhas... até do toque do barro na minha mão. E os cheiros... o do próprio barro misturado com o do pinheiro que perfumava a casa...
Quando crescemos, o Natal é esse resgatar da memória de um encantamento, quando ele existiu.

Foi então a figura do cordeiro que fez sentido para me acompanhar neste Natal. 
O cordeiro fala-me de mansidão e inocência, essa inocência da infância que recordava há pouco. Pesquisando a sua simbologia vejo estar associado ao sacrifício necessário para que haja uma renovação, e assim o cordeiro está a ajudar-me a compreender o espírito deste momento que todos os anos nos é oferecido para nos renovarmos, de alguma forma.

Consegui um pouco de tempo na tarde da véspera de Natal e fui desenhar as ovelhas do rebanho que pasta no terreno atrás de minha casa.

Esta imagem é um detalhe a caneta e aguarela retirado do diário gráfico... o papel de aguarela deu-lhe um aspecto lãzudo.

2 comentários:

lauro monteiro disse...

Adorei o texto. Belo, forte, sensivel...tal qual a desenhista: Uma alegria ter a Isabel como amiga.

abnose disse...

Obrigado por esta prenda de natal!... uma delícia!