Este encontro tinha tanto por onde escolher que o tempo foi de facto a única preciosidade escassa. Comecei por chegar atrasado e perdi a explicação inicial e as boas-vindas (só deu tempo para este pequeno esboço, feito de longe, e como o vento estava contra não consegui ouvir nada das últimas palavras)
Depois de passear escadas acima, deparei com isto:
Bons momentos passados a seguir as formas orgânicas do mobiliário da biblioteca, e as florestas curiosas formadas pelas pilhas de livros de onde cresciam misteriosas etiquetas codificadas.
A seguir, os jogos de luz sobre as estátuas da capela (o meu reino por umas aguarelas! nota mental: acho que a luz era dourada)
Tanto a dizer acerca dos azulejos! Não estive a tempo de ouvir as explicações, mas isto é um cerco, e parece-me que as tácticas são do sec XVII(?). As fortificações fazem "bicos" de forma a maximizar os ângulos de tiro contra quem se aproxime, e são inclinadas de forma a deflectir balas de canhão - o curioso "paliteiro" (parece uma caixa ambulante com gente em volta) é composto de lanceiros (invisíveis) no centro, rodeados de mosqueteiros. Os mosqueteiros disparam e depois escondem-se protegidos pelos lanceiros, que afastam a cavalaria e infantaria inimigas, enquanto os mosqueteiros recarregam (demoradamente) as suas armas. Quando o grupo se desloca, as lanças vão erguidas no centro, os mosqueteiros por fora, dando aquele aspecto de paliteiro rodeado de gente.
Do ponto de vista da arte o que é interessante é que o paliteiro é modelado como se fosse uma caixa sólida, completo com uma sombra lateral. O mesmo processo de abstracção pode ser visto nas nuvens de fumo dos canhões, que são modeladas como massas sólidas sombreadas, mais ou menos esféricas. É um tipo de modelação clássica, muito inteligente e funcional - "desenhar o que se vê" é complementado por "desenhar o que se compreende".
Uma carga a uma bateria numa posição elevada. De novo as nuvens de pólvora são elementos sólidos sombreados.
Um azulejo que me fez sorrir. Um espelho foca os raios do sol numa embarcação, que irrompe em chamas. A referência deve ser o famoso espelho de Arquimedes no cerco de Siracusa...mas o navio não tem nada de galera Romana! Em vez de fileiras de remos temos velas e portas para canhões! Sem qualquer pudor o artista mistura a sua época com a antiguidade. Ou transportará o mito para os seus dias, exortando a tecnologia moderna a tornar reais os antigos mitos? Notar ainda como as próprias chamas são de novo elementos sólidos (parecem uma cabeleira espessa e desgovernada) e sombreados! Uma escolha curiosa dada a natureza do objecto! Mas funciona!...
...e pronto, fim!
10 comentários:
Gostei muito dos desenhos e das palavras.
Muito interresante! E assim continuamos a nossa visita guiada ...
O texto é tão saboroso quanto o desenho. Achei interessante os pormenores dos azulejos e o segundo desenho está excelente.
Desenhos fantásticos, com muita profundidade! E muito interessante a explicação que os acompanha. Gosto de desenhos analíticos!
Foi um prazer ver estes desenhos e ler o texto.Adoro o desenho do mobiliário da biblioteca - não só pela qualidade mas pela autenticidade, parece que estamos lá...É que eu também estive ali sentada a observar e a desenhar... mas não com tanto sucesso!Parabéns pela escrita, também.
Obrigado pelos comentários tão simpáticos; depois não se queixem se com isso me encorajarem a escrever mais algumas das minhas parvoíces. :))
ps: Já agora, se alguém esteve lá no início e escutou a explicação referente aos azulejos (disseram-me que houve uma tal explicação, mas não sei se longa ou curta ou em que moldes), e lhe apetecer recordar-se por escrito, eu agradeceria um tal relato, que complementasse ou contradissesse as minhas ignorantes observações...
Ah! Não resististe às batalhas dos azulejos! :)
Muito bem apanhanhos, os vários planos no desenho da biblioteca! Belo trabalho de profundidade e de movimento da linha. Quem disse que a biblioteca era um sítio calmo? Tudo se move no teu desenho. Até os livros lá atrás ameaçam desatar aos saltos por ali a fora.
Olá Sara :)
as pilhas de livros de facto ameaçavam mover-se a qualquer momento...mais exactamente ameaçavam desabar espectacularmente...mas ali se mantinham, como certas formações rochosas que a erosão forma, aparentemente em equilíbrio precário mas estranhamente duradouro...:)
Pois, vi-os ao vivo. Admiráveis tanto na execução, bem como na reflexão.
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