
Por Ana Paula Xavier
Desenhar uma contradição HUMANA e respectiva explicação
“Percebi, certo dia, que o espelho do meu quarto é uma grande contradição: o meu lado esquerdo, quando reflectido, torna-se direito - e o direito, esquerdo -, mas a parte de cima não se torna parte de baixo, nem a parte de baixo, parte de cima. Acontece o mesmo que o meu gato. Mesmo quando se vira o espelho ao contrário.”
“(...) Ontem caminhava com a minha mãe, pelo parque, quando gritei: impossível! À minha frente estava um casal de namorados, aos beijinhos. Eram 2 mas só tinham uma sombra (de tão agarrados que eles estavam).”
“A minha tia gosta muito de pássaros mas prende-os em gaiolas. É uma pena.”
“O vizinho do sétimo esquerdo toca piano, canta e nunca desafina. Tem uns cabelos despenteados e uns dedos mais compridos do que aulas de MATEMÁTICA. Mas o que realmente me impressiona é que ele toca músicas tristes e isso deixa-o feliz.”
“Ele olha sempre para os lados quando atravessa a rua. Mas não olha para o lado quando aparece um pobre. Provavelmente nunca tem trocos.”
"Quando fui ao circo o meu pai levou-me a ver os leões nas jaulas, por trás da tenda principal, onde, por acaso, estava o domador a lavar as mãos com uma mangueira. O meu pai cumprimentou-o e louvou-o pela coragem de meter a cabeça entre as mandíbulas da fera.
- Isso não é nada - disse o domador de leões e, findo o aperto de mão do meu pai, voltou a lavar as mãos. A mulher barbada, que estava a ver a cena toda, disse assim: NÃO TEM MEDO DE LEÕES e outros animais muito grandes, mas TEM PAVOR de coisas minúsculas."
Excertos retirados do livro
A contradição HUMANA de Afonso Cruz
1 comentário:
O primeiro parágrafo lembra-me o meu pensamento acerca de dois meses quando comecei a autoretratar-me ao espelho (:
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