Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


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domingo, 26 de abril de 2015

Freedom Revolution Workshop com Marina Grechanik



Neste sábado, tivemos o privilégio de receber a Marina Grechanik, de Tel Aviv em Lisboa, para uma oficina de desenho que durou todo o 25 de Abril. O tema era desenhar o espírito da revolução através dos seus heróis: as pessoas. Usámos a sua técnica e os seus materiais de eleição. Estive bem fora da minha zona de conforto, exceptuando o primeiro desenho de aquecimento.


No primeiro desafio pretendia-se captar emoções nos rostos das pessoas, com linha ou com a combinação de mancha e linha. Os desenhos com menos detalhe parecem ser os mais bem sucedidos em comunicar as emoções que as pessoas mostravam. Conseguem encontrar a formadora algures no desenho?


Descemos à estação do Rossio por causa da chuva para o próximo desafio: desenhar acção. Capturar movimentos e gestos básicos, as posturas corporais de pessoas fazendo pequenas acções, com linha ou com mancha. Perto do final do desafio, sentei-me ao pé da Paula, que me emprestou um pincel de água com ecoline amarela - uma ferramenta mutio eficiente! E faz maravilhas combinada com os lápis de cor ou os lápis de cera, também da Paula.


Durante o almoço fiz um panorama do nosso sub-grupo na toalha de mesa. Para evitar conflitos ou complicações, as senhoras retratadas organizaram um sorteio sobre quem iria ficar com o desenho. A Teresa, que está na extremidade direita do desenho, ficou feliz com a vitória.


O desafio da tarde foi mais prolongado no tempo. Tomámos de assalto o Terreiro do Paço, a praça administrativa da capital, tornada atração turística nos últimos anos, depois de concluidas as obras. Estava mais populada que o costume nesse dia, talvez devido a ter sido um palco importante durante as operações do 25 de Abril. É uma praça naturalmente carregada de energia política e, como disse Walter Rossa numa conferência recente a que assisti, "foi feita para ser inóspita". Será que a vida turística e de lazer que existe hoje em dia vai perdurar? Será que queremos que perdure?


O desafio estava dividido em duas partes. Parte um: desenhar uma história de um único lugar, usando apenas uma ferramenta de linha, juntando informação essencial sobre as acções, as personagens e as interacções que acontecem no lugar. Parte dois: o mesmo que a parte um, mas com manchas e cor.


Não fiquei muito satisfeito com as histórias que captei em linha, portanto acelerei o processo para me atirar às manchas. A minha aventura com as manchas começou no Simpósio de Urban Sketchers em Lisboa em 2011, na oficina da Cathy Gatland e da Isabel Fiadeiro. Agora com a Marina, esta técnica levantou-se das cinzas e, espero, vem para ficar.


Os músicos da história anterior tocavam debaixo da arcada ocidental do Terreiro, rodeados por alguns activistas políticos e um bom par de centena de miúdos do secundário espalhados um pouco por toda a parte, a fazerem coisas de miúdos do secundário. De um momento para o outro, uma das raparigas pediu uma guitarra emprestada e, imediata e espontaneamente, formou-se uma banda de escola secundária. Tocaram e cantaram três canções com tal vigor e força que atraíram uma pequena multidão.


Alguns skaters improvisaram um obstáculo a partir de uma base de guarda-sol. Pouco depois, a chuva molha-tolos tornou-se numa chuva mais a sério, com vento e tudo. Abrigámo-nos debaixo do arco do triunfo, onde a Marina encerrou a oficina, e seguimos pelas ruas da Baixa até uma pastelaria onde bebemos chás e moscateis para aquecer o corpo e o espírito.


(Também publicado em http://pedromacloureiro.com/)

16 comentários:

nelson paciencia disse...

Que bela reportagem de um dia formidável! Os teus desenhos mesmo em desconforto são uma maravilha.

Tiago Cruz disse...

Tudo muito bom! Mas aqueles dois desenho só com linha estão fantásticos…

Vitor Mingacho disse...

Muito bons mesmo!

Suzana disse...

Muito bom!! As experiências de mancha, gosto muito!

Mário Linhares disse...

BRUTAL reportagem do dia!!!
Sempre em grande Pedro!

Manuela Rosa disse...

Parece inacreditável!
Que grande reportagem, que técnicas criativas e cheias de cor!

Miú disse...

Pois eu acho que os "desenhos em linha" ficaram óptimos, Pedro (e aquela R4, adoro!)

PS - A Teresa tb. ficou giríssima na fotografia, by the way. :)

Vicente disse...

Muito, muito, muito bom.

Teresa Ruivo disse...

Que maravilha!

Pedro Loureiro disse...

Muito obrigado a todos! :)
A Marina é uma boa profa! Gostei mesmo de por em prática estas técnicas dela. Estava a sentir que era a altura certa para variar um pouco.

Miú: a R4 era catita, estava toda decorada com palavras de ordem. Pertencia aos tais activistas políticos, mas não tive curiosidade suficiente para lhes ir perguntar ao que vinham.

Maria Celeste disse...

...Pedro ,que maravilha...
...muitos Parabéns...

João Santos disse...

Muito bons, tanto os com mancha como os só com linha!

Manuela Rosa disse...

Espetacular! Mas também gosto de como contas as histórias, a expressão dos retratos (a Marina está igual) e a composição nas páginas!

Ana Crispim disse...

Muito bons, todos!!!

Pedro Loureiro disse...

Obrigado também, Celeste, João, Manuela e Ana! :)

USkP Convidado disse...

Está fantástica a tua reportagem, Pedro!
A Teresa foi mesmo uma sortuda
em ter ficado com o teu desenho!

Paula Cabral