Em Lisboa, um correeiro experiente contorna a crise graças à qualidade do seu trabalho. Trabalha o cabedal maioritariamente para cavaleiros mas não recusa clientes de áreas inesperadas, dentro e fora de fronteiras. Aponta o gosto pelo que faz e a habilidade com que o faz como os pilares do seu invulgar sucesso, mas clientes fiéis e a raridade do seu ofício poderão ser factores determinantes.
A sua pequena loja-oficina fica numa aldeia no interior de Lisboa que, como tantos outros lugares da capital, passa despercebida aos Lisboetas. Nesta aldeia só residem, trabalham ou a visitam pessoas que, de uma ou outra forma, estão relacionadas com a sua actividade e a sua cultura específica. Lá residem algumas dezenas de pessoas e algumas centenas de cavalos. Fica junto ao Campo Grande e chama-se Centro Hípico de Lisboa. Quem a visita conhece-la pelo nome da instituição que alberga - a Sociedade Hípica Portuguesa - ou pelo seu nome mais coloquial - o «Jockey».
Para além de pequenas habitações vernáculas, esta aldeia Lisboeta possui também, entre caminhos de saibro e terra batida, picadeiros e pátios relacionados com a prática do hipismo e meia dúzia de estabelecimentos comerciais, entre os quais a famosa - para quem dos seus serviços precisa - loja do correeiro, ofício intimamente ligado à arte de cavalgar.
Ataíde, correeiro com 36 anos de experiência, começou a sua prática nas Oficinas Gerais do Exército, o Casão Militar, cumprindo, simultaneamente o serviço militar obrigatório. Escolheu a correaria, não por ter alguma ligação familiar ao ofício, mas por se considerar habilidoso com os trabalhos manuais. Já as origens de tal talento, atribui-as em parte ao pai, que na sua região natal da Pampilhosa da Serra fazia frequentemente as vezes dos raros médicos da província, administrando tratamentos e curativos simples pelas aldeias da zona. Ameaçado pela GNR por praticar actos médicos sem licença, foi ajudado por um médico que o estimava como auxiliar e que o levou a Coimbra para o ajudar a legalizar a profissão que já exercia.
(continua)
6 comentários:
Simplesmente deliciosa esta história!
Cada vez mais inspirado a escrever, Pedro.
O sr. Ataíde é um bom assunto, mas o repórter tem que ter unhas para sair uma boa reportagem. É o caso.
... belos desenhos e reportagem à altura...
Uma reportagem à altura dos desenhos.
Muito bom
Obrigado a todos! :)
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