Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


Pensamos que o Diário Gráfico melhora a nossa observação, faz-nos desenhar mais e o compromisso de colaborar num blogue ainda mais acentua esse facto. A única condição para colaborar neste blogue é usar como suporte um caderno, bloco ou objecto semelhante: o Diário Gráfico.


Neste blogue só se publicam desenhos feitos de observação e no sítio

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Agenda dos Sketchers - Maio 2020



AGENDA DOS SKETCHERS
Maio 2020
Nesta edição ficamos a conhecer como é que alguns grupos regionais fizeram face à quarentena e que opções encontraram para continuar a desenhar. Damos também conta dos donativos que a Associação levou à sociedade civil e de como nos cuidados intensivos hospitalares mesmo em tempos de muita pressão o desenho acontece. Entrevistámos o Bruno Vieira, fomos desafiados (a)Riscar o Património literário, e para acabar esta agenda mais longa que o habitual um interessante artigo sobre o livro Reportage and Documentary Drawing da Veronica Lawlor. Para quem perdeu uma WebOficina ainda está a tempo de responder ao desafio. Basta clicar numa das 26 propostas listadas no fim da agenda.
Fiquem em segurança e desenhem em segurança.
Parar de desenhar é que não!
por Carlos Fidalgo (USk Torres Novas)
 
desenho de Rui Pereira

Os tempos que vivemos, são tempos de adaptação, aos mais diversos níveis, como todos já sabemos.
Aqui por Torres Novas, logo após o nosso 4.º Encontro (08/03/2020), vimos passados poucos dias, as nossas vidas ficarem confinadas. Ainda assim, e de uma forma geral, o desenho continuou a fazer parte das nossas vidas.
Do que vamos observando, ao longo deste período de tempo, através das partilhas que os elementos do grupo fazem, temos tido de tudo um pouco: desenho na rua (zonas rurais), nas proximidades das habitações; desenho na rua, mas dentro do veículo automóvel; desenho das zonas envolventes das nossas casas; desenho coletivo (em casa), entre país e filhos; participação nas atividades propostas pelos USkP; e vamos aproveitando para seguir o trabalho dos restantes urban sketchers.
Embora a vida continue, porque muitos de nós continuamos a estudar, trabalhar, etc., parar de desenhar, é que não! Desenhar faz-nos sempre bem! E é como nós queremos que fiquem: - bem!
desenho de Dora Gonçalves
Desafios de confinamento
por USk Algarve

Neste período os Urban Sketchers Algarve confinaram-se à página de facebook do grupo (www.facebook.com/groups/UrbanSketchersAlgarve/ ). Promovemos, até agora, sete desafios temáticos, um por cada semana. Começamos na semana de 13 a 20 de Março com “vistas da janela” e desde esse desafio as semanas temáticas de desenho vão-se sucedendo. Temos explorado um pouco de tudo, e tivemos inclusive um dia para fazermos desenhos que claramente não fossem conformes com o Manifesto USk (aprender fazendo).
As exposições que tínhamos preparado para Abril e Maio vão passar a exposições virtuais. Para manter o contacto entre os desenhadores, os USk Algarve têm já planeados encontros virtuais e demonstrações ao vivo que deverão arrancar já em Maio.

A Quarentena desenhada pelos Montemor Sketchers
Por Paula Brito

 
desenho de Paula Brito

Passaram mais de seis semanas em isolamento social. Não têm sido fáceis estes dias de confinamento, privados da liberdade e dos afetos…
Os dias dos MOSK são passados em família e em teletrabalho. O Desenho tem sido um forte aliado, ajudando a ocupar o tempo e a mente, de forma a ultrapassar este período difícil.
Tenho procurado desenhar todos os dias no meu Diário da Quarentena Desenhada /Covid-19, seguindo o lema “Um desenho por dia não sabe o bem que lhe faria”. Desenho só em casa, mas sinto saudades dos rabiscos/Sketches no exterior e dos encontros dos Urban Sketchers.
Os MOSK têm vindo a participar sempre que possível nos desafios lançados pelos USKP. Têm mantido a sua participação nas sessões de desenho de modelo promovidas pelo Salão 40- Oficina de Desenho, em Coimbra, mas neste período por videoconferência.
Enfim, tem sido uma Quarentena dedicada à paixão pelo desenho.
https://www.facebook.com/groups/montemorsketchers/
 

desenho de Jorge Antunes
Desenhar em tempos de pandemia
por Cristina Seixas



Caros amigos! Eu sou a Cristina Seixas. Entrei para os Évora Sketchers por alturas do Traço’17. Procurava uma atividade com a qual me identificasse e onde pudesse dar expressão aos meus desenhos de cores berrantes. Eles repararam logo...
Para mim, como para todos nós, as rotinas diárias são essenciais. São aqueles rituais que nos fazem sentir confortáveis e nos dão a sensação de segurança e o sentido da ordem das coisas.
Os encontros mensais para desenhar são isso mesmo: uma rotina ansiada, em que procuramos os rostos habituais e saudamos calorosamente os menos habituais, porque as pessoas são importantes. As conversas, a escolha do spot, os desenhos, os cadernos, os comentários. O que dizemos quando olhamos para um desenho é o reconhecimento do traço e das cores inconfundíveis de cada um. Porque as palavras são importantes. Por fim, a partilha e a foto de família. Gestos simples e rotineiros, que nos dão a noção de identidade e de pertença de grupo.
Mas de repente, as nossas vidas mudaram! O nosso mundo previsível, seguro e estável deixou de o ser. A pandemia obriga-nos a estar fechados e o nosso mundo reduziu-se ao limite das nossas casas. E agora? O que vamos desenhar? O spot são as nossas quatro paredes…
Este é o desafio das nossas vidas e temos de ser criativos. Desenhar tornou-se, acima de tudo, um escape e uma bênção. Precisamos disto, mais do que nunca. E este período já está documentado nos nossos cadernos.
Quando os Urban Sketchers Portugal lançaram  #quarentenadesenhada e as #weboficinas, não hesitei em participar. Diariamente, vejo qual é a atividade proposta e organizo o tempo para o teletrabalho e para desenhar. Porque desenhar é vital! E a vontade de participar não tem só a ver com o desenho. Tem a ver com a necessidade de manter a rotina e, acima de tudo, de preservar a pertença de grupo e a identidade, de interagir, de comunicar, de perceber que há alguém do outro lado... Porque as pessoas fazem falta e as palavras também. E a paixão – esta, como qualquer outra - é o que nos salva.

Donativos da Associação USkP em tempos de pandemia


Pondo a nossa Associação ao serviço da sociedade que tantas carências tem neste momento foi feito um donativo no valor de 500 euros à Junta de Freguesia de Arroios, de modo a contribuir para o apoio que esta junta está a dar a muitas famílias carenciadas, com necessidades urgentes e imediatas, algumas onde, inclusivamente, o desemprego já se faz sentir.



Cientes da importância dos TESTES na mitigação desta pandemia, foi feito um donativo no valor de 2500 euros ao Instituto de Medicina Molecular (iMM), concretamente ao projecto "Task Force Covid- test, test, test " que se dedicou   à investigação sobre como fazer Kits de detecção do virus SARS-CoV-2 de forma rápida e eficaz  e que  tem vindo a produzir diariamente  centenas de testes que distribui pelos nossos hospitais.
Este projecto carece no entanto de financiamento, e o nosso donativo servirá para dotar a equipa  de reagentes para os kits de diagnóstico e de materiais de proteção individual que garantam a segurança dos investigadores que ali trabalham.

Desenho da Rosário Félix

 
“O outro lado da pandemia”
por Luís Frasco




Nestes estranhos dias de confinamento forçado, muitos de nós têm se entretido a desenhar. Mas fora do conforto das nossas casas, no verdadeiro olho do furacão da pandemia, nos Cuidados Intensivos do Hospital de Santa Maria, o desenho também acontece. A enfermeira Marli Vitorino redescobriu o desenho quando, nos intervalos de serviço, precisou de aliviar a pressão imensa e o desconforto do fato, pegou numa folha e caneta e registou o que via, “e a partir daí tornou-se uma terapia”, afirma ela ao jornal Público.
Não se assumindo como urban sketcher – os desenhos são feitos a partir das fotografias que tira – o momento do desenho é no local, na zona contaminada, o que impede a Marli de trazer o bloco para casa por questões de segurança.
Podem conhecer AQUI (clicar) o vídeo da entrevista e alguns dos desenhos da Marli. Agora criou uma página Facebook, “O outro lado da pandemia”, onde reúne os seus desenhos.
 

Entrevista a Bruno Vieira
Associado nº 203
Profissão: Arquitecto
Local onde vives: Torres Vedras

1. Como descobriste os urban sketchers?
Descobri o CCC SketchCrawl Torres Vedras em Setembro de 2014 numa noticia local, um grupo orientado pelo André Baptista, depois comecei a participar nos encontros de desenho e a partir daqui conheci outras pessoas e grupos, como a associação Urban Sketchers Portugal e os primeiros passos dos Oeste Sketchers.

2. Com que periodicidade desenhas?
É muito variável, posso tocar no caderno de desenho uma vez por mês ou todos os dias se tiver espírito. Mas como registo constantemente notas, ideias e esquemas, a caneta e os rabiscos estão sempre presente.

3. Qual o teu local preferido para desenhar e porquê?
O melhor é a fronteira entre o mar e a terra, a costa, além da diversidade de elementos
naturais, varia muito em atmosferas, é um prazer relaxar com aguarelas e pincéis durante o verão com uma paisagem cheia de pessoas ou numa praia deserta, vazia de mar e ébria em neblina num ambiente surreal.

4. Quando decides acabar um desenho?
Quando vejo equilíbrio, quando o desenho deixa de ter detalhe a menos e a informação a adicionar torna-se irrelevante no que pretendo transmitir.

5. Qual a tua proposta de desenho para o período de quarentena que atravessamos?
Se o real é limitado, temos o virtual para viajar, streetview, visitas virtuais a museus e espaços públicos, vídeos ou fotos 360º, universos virtuais de jogos, “livestreaming” de lugares e pessoas, filmes ou personagens que nos marcam, etc. É cada vez mais virtual o nosso quotidiano social e cultural, o desenhador do quotidiano deste século não poderia esquecer essa parte.

Bruno Vieira por Paulo Mendes

(a)Riscar o Património Literário
por Jorge Vilanova


Tempos excepcionais exigem atitudes excepcionais. Porque continuamos activos, embora isolados, porque vivemos dias arriscados nunca antes vividos, desafiamos a trazer o risco para dentro de casa.
Desta vez o tema para o "encontro", é (a)Riscar o Património Literário. A literatura, quer pelo seu elo a lugares e sítios - imaginados ou reais - quer pela sua capacidade transcendente, possibilita infindáveis representações gráficas. Assim, pede-se a todos que, apesar de confinados, escolham uma ou duas obras literárias que considerem importantes - um romance, poema, conto - e desenhem algo que remeta para o universo desse livro.
Um cachimbo pode aludir a Hemingway, um gato a Sepúlveda, ou Agostinho da Silva, ou tantos outros, o cão que com quem partilhamos a vida, um retrato, ou um quadro, uma peça de um país exótico, um armário, um candeeiro integrado num cenário doméstico, um instrumento musical, uma colecção… são inúmeras as possibilidades, haja imaginação, criatividade.
As instruções para envio de trabalhos, assim como outros esclarecimentos, estão disponíveis em www.ariscaropatrimonio.wordpress.com
Participe!



 
Reportage and Documentary Drawing
por Luis Frasco



Livros de “urban sketching” há muitos, e bem interessantes, mas não me foi difícil eleger um: “Reportage and Documentary Drawing” da americana Veronica Lawlor.
Além de ser um admirador incondicional do desenho solto e expressivo da Veronica, o livro versa uma área que me interessa muito, até como hipótese profissional - a reportagem gráfica – mas que acaba por abranger o urban sketching que todos nós fazemos. E na verdade, como é referido na Introdução, “reportagem” vem do francês do séc XVII e significa “trazer de volta”, que é o que nós gostamos de guardar nos nossos desenhos.
O livro está organizado em 2 partes: as “Chaves” para uma boa reportagem (Observação, Storytelling, Drama, Ritual, História, Documentário) e as “Galerias” onde agrupa exemplos de vários tipos de desenhos que podem constituir reportagem (Causas, Retratos, Paisagens, Estados e Emoções).
O livro está recheado de fabulosos desenhos, da autora e dos mais variados sketchers, onde a ela destaca em cada um a componente de reportagem, a técnica utilizada ou a estratégia a que recorre.
Sem dúvida uma leitura que acrescenta muito a qualquer um de nós! (podem ver AQUI um vídeo do Parka a desfolhar o livro e AQUI onde comprar).

Colabora com a Agenda dos Sketchers
Estamos sempre à procura de histórias de encontros e actividades dos urban sketchers em Portugal. Se gostavas de ver a tua história aqui, pergunta-nos como podes fazer, enviando um email para uskp.regionais@gmail.com.
Torna-te associado dos USkP. Descobre como aqui.
Segue a página de Facebook dos USkP
 
Web Oficinas

Já realizadas
23 de março - António Procópio -  weboficina 1 -  Procopiar o WC
24 de março - Pedro Loureiro - weboficina 2 - Céus
25 de março - Luís Frasco - weboficina 3 - Quarentena é tempo de reflexão
26 de março - Luís Ançã - weboficina 4 - As mãos que desenham no caderno os objectos em cima da mesa e mais além
27 de março - Zé Louro - weboficina 5 - Lilliput e Brobdingnag
28 de março - Fernanda Lamelas - weboficina 6 - Estamos a passar por momentos surreais...
29 de março - Eduardo Salavisa - weboficina 7 - Da tri para a bidimensionalidade
30 de março - Filipe Pinto - weboficina 8 - Variações sobre um Tom
31 de março - Suzana Nobre - weboficina 9 - Lá fora dentro de casa
01 de abril - Paulo Mendes - weboficina 10 - Musealizemo-nos!
02 de abril - Mário Linhares - weboficina 11 - Carta ilustrada
03 de abril - Pedro Cabral - weboficina 12 - Vamos ao ginásio
04 de abril - Teresa Ruivo - weboficina 13 -  Uma crónica da Quarentena
05 de abril - João Catarino - weboficina 14 -  Belo Horizonte
06 de abril - Bruno Vieira - weboficina 15 - A Linha, o canivete suíço da linguagem
08 de abril - Manuela Rolão - weboficina 16 - A Paleta reduzida
10 de abril - Hélio Boto - weboficina 17 - 2Cs
13 de abril - Cláudia Mestre - weboficina 18 - De geração em geração
15 de abril - Pedro Ribeiro Ferreira - weboficina 19 - Caras e mais Caras
17 de abril - Nélson Paciência - weboficina 20 - Procura uma personagem!
20 de abril - Ketta Linhares - weboficina 21 - Uma história silenciosa
22 de abril - João Pedro Coutinho - weboficina 22 - Real vs. Memória
24 de abril - Filipe Almeida - weboficina 23 - Riscar o riscador
27 de abril - Rita Catita - weboficina 24 - Somos todos Warhol
29 de abril - Tomás Reis - weboficina 25 - A casa sem paredes
01 de maio - Isa Silva - weboficina 26 - O vazio preenchido
Desafio Quarentena Desenhada

Este mês o desenho mais comentado foi da autoria da Alexandra Baptista
Com o fim do estado de emergência e com a progressiva reabertura do país a atividades no exterior, em maio, voltamos ao modelo tradicional de lançamento dos desafios e selecção do mais votado para o cabeçalho do blogue.



 

4 comentários:

Henrique Vogado disse...

Excelente trabalho Filipe! Pensávamos nós que em confinamento, a matéria seria menor e menos variada, mas a comunidade tem respondido muito bem a este grande Desafio.
Os parabéns a toda Comunidade e a todos as pessoas que neste período quiseram experimentar esta prazer que é Desenhar.
Fiquem bem!

Manuela Rosa disse...

Concordo com o Henrique!
Parabéns ao Filipe e a todos os que têm desenhado muito!
O desenho salva-nos...
Um abraço a todos!

Alexandra Baptista disse...

Obrigada pelos grandes desafios que nos propuseram.

L.Frasco disse...

Que maravilha de agenda!
Já apetece ficar à espera do fim do mês, para ver as surpresas que nos reserva.