Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


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sábado, 30 de julho de 2016

Ao vivo do Simpósio USk em Manchester #3

Simpósio USk em Manchester dia 3


Durante a manhã do dia 29, circulei pelas oficinas em torno do Manchester City Council - que casualmente eram apenas oficinas lideradas por formadores norte-americanos. Na primeira, o Texano James Richards ensinou o seu substancial grupo os rudimentos de desenhar uma multidão na oficina "Capturando a multidão: pessoas em locais públicos". Mecanismos simples, como estabelecer uma linha de nível de visão, transmitindo dinâmica ao andar das pessoas colocando uma perna à frente da outra, jogando com primeiro plano, plano médio e plano de fundo. Todos contribuem para dar a ideia de uma boa multidão num desenho, que é uma base sólida para desenho de espaços públicos.

A Stephanie Bower estava mesmo ao lado, no primeiro piso do Manchester City Council, a tomar conta da sua oficina sobre "Espaços em crescendo". Os seus alunos sentavam-se silenciosamente no pavimento ou nos seus bancos desdobráveis, prestando atenção a todos os detalhes de um arco em ogiva de um átrio e, cuidadosamente, estabelecendo linhas de perspectiva que os ajudassem a compreender as noções de ponto de fuga, simetria e linhas direccionais, para um melhor desenho de uma arcada e de abóbadas interiores.

Enquando a oficina da Stephanie se passava no silêncio absoluto do City Council, a um tiro de distância o Paul Heaston, debaixo de uma arcada, testava os limites dos formandos, fazendo-os desenhar em perspectiva esférica, ao mesmo tempo que os fazia mostrar um nível imenso de detalhe em tudo o que se passava entre os arcos, usando a arcada como uma moldura para encaixilhar a vida da cidade.

Não havia mais oficinas durante a tarde. Ao invés disso, aconteceram actividades e palestras. Havia tanto por onde escolher, mas pareceu-me pertinente mostrar o que acontecia na mesa redonda "Gerindo o teu capítulo regional" do Mark Leibowitz. Foi sempre um assunto delicado e complicado partilhar as diferentes experiências e dificuldades dos muitos grupos de Urban Sketchers em torno do mundo. Levantaram-se mais questões que soluções, mas o sucesso desta sessão foi que os coordenadores regionais conheceram cara-a-cara os líderes de outros grupos e poderiam mais tarde falar individualmente com algum outro coordenador que os pudesse, pela experiência, ajudar a ultrapassar os desafios específicos.

O Nelson Paciência, dos Urban Sketchers Portugal tinha uma palestra singular para apresentar. Ele usou o seu lugar na agenda do palco para partilhar a sua experiência única enquanto formador de desenho aos prisioneiros da prisão de alta segurança de Monsanto, em Lisboa. A plateia ouvia com atenção enquanto o Nelson nos contava quão surpreendente e comovente tinha sido a experiência com os prisioneiros com que passou tempo e ensinou. As suas conclusões sobre a falta de dignidade que os prisioneiros são sujeitos, e como o desenho se tornou uma ferramenta de revolta, um símbolo de fortalecimento e uma fuga à vida na cela, despoletaram um debate longo e frutuoso.

5 comentários:

Alexandra Baptista disse...

OBRIGADA..

Maria Celeste disse...

...e foi mesmo assim...
...que reportagens bem trabalhadas...

USkP Convidado disse...

Que esplêndida reportagem!
Celeste Vaz Ferreira

nelson paciencia disse...

Mais uma reportagem de categoria! Obrigado Pedro.

Pedro Loureiro disse...

Eu é que agradeço a oportunidade :) e os comentários