Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


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domingo, 5 de dezembro de 2021

Belém aos azulejos

Abriram-nos as portas do Museu: durante um dia inteiro, desenharíamos os jardins da morada oficial do Presidente da República de onde quiséssemos. Por ali passam o Chefe da Casa Civil, conselheiros de Estado, visitantes oficiais, ilustres condecorados, equipas de futebol vitoriosas, medalhados olímpicos e, claro, o mais alto magistrado da nação, Comandante Supremo das Forças Armadas, nosso Presidente. Mas naquele dia, iríamos redescobrir pelos cadernos, se aqueles jardins de buxo parecem iguais à fotografia ou à televisão.



A primeira descoberta é surpreendente: o palácio de Belém tem uma escala bastante humana, longe da monumentalidade de outras moradas que a monarquia deixou. Mas também surpreende pela generosidade da vegetação e a serenidade das vistas, altivas ma non troppo, certamente democráticas, sobre a praça Afonso de Albuquerque e o rio lá atrás. 



Corria o mês de Novembro, bem avançado, a testar a resistência dos intrépidos desenhadores. A aragem fria espreitava entre os ramos dos pinheiros mansos, secando as mãos, mas espalhando também a fragrância nítida das sebes de buxo aparadas. E os desenhadores resistiram, sempre sob o olhar reconfortante com que Leonel Moura esculpiu Mário Soares, numa estátua que acaba de ser inaugurada.



Também no Jardim da Cascata se descobre uma monumentalidade encenada, mas eficaz. Das arcadas voltadas para o jardim, que parecem ter outras dimensões em fotografias, nos desenhos e dos cadernos. E foi daí que surgiu o primeiro dos desenhos do dia, todos com os mesmos materiais, como se o azul tivesse saltado das paredes dos azulejos e tingido as folhas dos cadernos.




No fim, permanece o essencial: a vontade de contar, de partilhar histórias na mancha e no traço. Também ali, na morada oficial do nosso presidente foi sentida, e só isso nos bastou.




8 comentários:

Graça Patrão disse...

Os desenhos ganham Vida também com os comentários. Não são papel e tinta, são momentos de espiritualidade que podemos sentir.
Excelente trabalho!

Rosário disse...

Tanta poesia boa!

Coisas de fazer - Handmade in Portugal disse...

Parabéns. Adoro

Tomás Reis disse...

@Graça Patrão vão mesmo além do papel e da tinta. É o momento do registo também a memória futura. O ambiente daquele dia foi especial, permanecerá nos nossos desenhos

Tomás Reis disse...

@Rosário e @Coisas de fazer muito obrigado ^^

Ana disse...

Magnifico!

L.Frasco disse...

Magistral, Tomás! Os desenhos e o relato. Parabéns pela tua leitura daquele dia para guardar.

Lurdes Boavida disse...

Belissimos desenhos do sitio,uma captura fantastica do espirito de Belém.