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John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


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quarta-feira, 13 de maio de 2015

Carbono e outros elementos

Durante mais de quatro anos fiz parte do Fc-Acto, grupo de teatro académico da Faculdade de Ciências de Lisboa. Ontem tive a oportunidade de ser espectador de um dos seus espectáculos. Tal como muitos outros grupos de teatro académico, o Fc-Acto é impulsionado por boa-vontade e longas horas de duro trabalho dos estudantes-actores e do seu encenador. Todos os anos, o Fc-Acto monta um espectáculo e candidata-se ao FATAL - Festival Anual de Teatro Académico de Lisboa. Grupos de todo o país e até alguns convidados estrangeiros dão espectáculos em palcos um pouco por toda a cidade.

Nos seus 10 anos de existência, o Fc-Acto pôde participar em algumas edições do festival, não sem deixar atrás sangue, suor e lágrimas e ter alguns momentos de dúvida e insegurança, ao enfrentar os critérios de admissão e o júri do festival. Este ano, o Fc-Acto conseguiu, de facto, uma participação no FATAL com a peça "Carbono e outros elementos".


Nas ciências naturais, a vida é baseada no carbono. Na peça "Carbono", são os próprios estudantes-actores que constroem a atmosfera e o conteúdo da peça ao trazerem ao palco as suas vidas, nomes, gostos, animais de estimação, telemóveis, canções, livros, fotografias e histórias. O espectáculo é, de acordo com o seu encenador, A. Branco, uma peça sobre a construção da peça. Exala mais processo que trama, e as cenas vão-se sucedendo num cadáver esquisito, em que cada uma delas se torna interessante por si própria e pela sua ligação com a cena seguinte.


Como de costume no final das peças que participam no FATAL, os actores e o encenador disponibilizaram-se para uma tertúlia em que foram debatidas e admiradas a estrutura e a qualidade cénica da peça. O elefante na sala, no entanto, foi a cena final da peça, em que um actor solitário lê algumas linhas dum caderno para um microfone, que esteve sempre no palco, sem ser usado. As linhas são excertos de declarações públicas de outros dois grupos de teatro feitas em 2009 e 2013, acusando os organizadores do FATAL de arrogância e/ou desorganização total na produção do festival, apontando nebulosos e flexíveis critérios de admissão. Isabel Tadeu, a directora do FATAL, que assistiu à peça, deu arranque à tertúlia, classificando a peça de deselegante e desrespeitosa para o festival. Se as acusações de ambas as partes são verdadeiras ou falsas, deixa-se à opinião. Mas o debate está na rua graças ao gesto arrojado de criatividade artística e democrática do Fc-Acto.

(publicado também em http://pedromacloureiro.com/)

8 comentários:

Vitor Mingacho disse...

Uma bela reportagem!

Henrique Vogado disse...

Os desenhos no programa ficam muito bem. A reportagem está muito boa.
Acompanhava o teatro universitário pelo meu irmão que esteve uns anos no Grupo de Teatro do Técnico e dou muito valor a todo o trabalho efectuado por todos os grupos.
E Teatro também é polémica, crítica e experiência.

Maria Celeste disse...

...bela reportagem...

dilar pereira disse...

Gosto muito.

Ana Crispim disse...

Boa reportagem.

Rosário disse...

Gosto da utilização do programa como suporte da bela reportagem!

Manuela Rosa disse...

Uma técnica mista que resultou muito bem!
O grupo no segundo desenho está fabuloso. E os teus já famosos balões de fala com uma caligrafia irrepreensível... Parabéns!

Pedro Loureiro disse...

Obrigado a todos! :)
Foi giro estar entre o grupo 4 anos depois de já não estar com eles. Apenas o rosto do encenador e de um outro actor me eram familiares.

Henrique, Rosário e Manuela: Tive mesmo de usar o programa porque não tinha o diário gráfico comigo, acabou por ser um acaso feliz.

Manuela: obrigado, mas quanto à "caligrafia irrepreensível" é que já tenho dúvidas ;) na primeira classe deve-se fazer bem melhor, hehe