Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


Pensamos que o Diário Gráfico melhora a nossa observação, faz-nos desenhar mais e o compromisso de colaborar num blogue ainda mais acentua esse facto. A única condição para colaborar neste blogue é usar como suporte um caderno, bloco ou objecto semelhante: o Diário Gráfico.


Neste blogue só se publicam desenhos feitos de observação e no sítio

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Viagem à Polónia #1 Comboio para Warsawa


"Desde cedo que, no meu imaginário, a viagem está associada ao desenho, graças a leituras repetidas das edições antigas dos álbuns do Corto Maltese do meu pai. Quando começaram a sair as edições modernas com belas aguarelas no início, do romântico soldado da fortuna em exóticos ambientes, ainda mais ainda se acentuou a minha vontade de viajar e deixar em linha e cor aquilo que vou vendo, saboreando, cheirando, ouvindo e sentindo, as pessoas que vou conhecendo, ou que não conheço, mas que por alguma razão fizeram a caneta riscar o papel de mais uma página de um diário gráfico.

Viajar e desenhar são duas das minhas actividades favoritas. A primeira, alimentada pelo mistério do desconhecido e pela curiosidade que o outro desperta, impele-me a caminhar pelo globo fora, encontrando familiaridades e singularidades, os diferentes lugares e os diferentes aspectos da existência humana, que me ajudam a construir uma imagem, ou uma ideia do que diabo andamos por cá a fazer.

A segunda trata de registar em traço e em cor aquilo que sinto relativamente ao que vou conhecendo na viagem. O desenho é um interface com o mundo exterior e aquilo que resulta de destilar o eu e o outro juntos. Talvez o segundo seja a resposta à pergunta do primeiro: procurar o modo de nos fundirmos com o mundo.

Uma viagem de alguns dias à Polónia não parece ligar com as buscas esoterico-românticas do marinheiro, certamente não é a chave para os segredos da experiência humana e a união espiritual através do desenho, mas creio que até nas viagens mais curtas ou nos lugares menos exóticos o desenho serve esse propósito de interpretar e acrescentar bocadinhos de sabedoria à colecção de singularidades que nos torna únicos.


Adiante, para assuntos mais prosaicos: O desenho em viagem é um óptimo modo de preencher 3 horas de viagem de comboio. É um melhor desbloqueador de conversa que wódka. É uma excelente câmara de longa exposição, captando muitas coisas que acontecem em paralelo ou em sucessão no mesmo local com maior clareza que a máquina fotográfica (ou o telemóvel)."


8 comentários:

Maria Celeste disse...

...abaixo o «instantâneo» e viva a observação, interessada ,prolongada e vivida que vai sendo concretizada em linha e mancha...
...e também um belo texto...

Manuela Rosa disse...

Apoiado (o que diz a Celeste!)!
Adoro o traço e a técnica de aguarela que já caracteriza os teus desenhos!

Teresa Ruivo disse...

Espero que, de onde estes vieram, haja muitos muitos mais!

Suzana disse...

Que bom texto, revejo-me alí numa frase em particular " procurar o modo de nos fundirmos com o mundo." Os teus desenhos são fantásticos com um traço tão característico, tanto que te reconheci pelos teus desenhos das pessoas :)

Filipe Pinto disse...

Depois de ver/ler este post fiquei com vontade de desenhar, de escrever e de viajar até ao primeiro mar salgado que me aparecer pela frente.

nelson paciencia disse...

Soberbos! Texto e desenhos.

Pedro disse...

Óptimos.
Falta-me a assinatura no livro.

Pedro Loureiro disse...

Obrigado a todos e um grande abraço!