Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O silêncio de desenhar

Rua de Santa Catarina, no Porto, na manhã do 4º Encontro dos USKP Norte.

Começou por ser um desenho muito exigente para mim por ter muitos pormenores de arquitectura a integrar na perspectiva. Optei pela simplicidade de representação desses elementos e com alguma concentração vi como poderiam ser tornados mais leves... ao andarmos na rua também não estamos a ver tudo em detalhe, o olhar cria referências simplificadas do que vê à passagem pelas coisas. A simplificação é muito mais próxima da nossa visão dinâmica do mundo.


Desenho a canetas japonesas em diário gráfico.


Ao desenhar as pessoas senti como era importante representar o seu movimento para ilustrar toda aquela vida de uma animada rua de cidade, e fiz com que, mais do que a densidade da presença física, fosse o movimento a traduzir como as pessoas preenchiam o espaço da rua. Deliciei-me com o movimento constante em várias direcções e as várias distâncias a que se encontravam. 
Ao desenhar algumas pessoas estas apresentavam-se ao meu olhar de uma forma bastante cómica... as que do lado esquerdo vinham a meio da rua caminhando na minha direcção apareciam debaixo do braço esquerdo do personagem que está em primeiro plano (que era o Tiago Cruz) como se fossem pequenos personagens de uma história encantada, que existiam tendo aquele tamanho! Claro que a ilusão durava um breve momento, mas registei-a como algo interessante. Isto acontece porque nos momentos em que se olha centrado apenas em captar a relação de tamanho e posição entre os vários elementos, o olhar faz uma leitura em que coloca tudo como se estivesse no mesmo plano, independentemente da distância a que se encontra.
Acho realmente fascinante o que se passa entre os nossos olhos e o nosso cérebro, como traduzimos o que vemos construindo a nossa própria noção de real!

É também curioso como entramos num silêncio só nosso quando desenhamos no meio do movimento da cidade. Estar em grupo ajuda a proteger esse espaço de silêncio.

Aqui, o desenho já depois de lhe ter dado mais contraste no primeiro plano, o que me parece que melhorou um pouco a profundidade da rua... Ainda continuei a dar mais contraste mas como isso fez perder a frescura dos personagens em segundo plano, que vive do branco do papel, fixei este como um ponto do estudo em que a relação entre as partes ainda está equilibrada de acordo com o que eu quis transmitir.



2 comentários:

USkP Convidado disse...

Fantástico! O sketch por si já justificava como acertada a escolha pela simplicidade da representação, mas também adorei o texto, que sem dúvida acaba por enriquecer ainda mais o sketch. Parabéns, excelente!

João Santos

Suzana disse...

Muito interessante a forma com analisas o desenho e o processo, justifica tudo!