Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Fora da UE

Christiania é um bairro à margem da lei. Tem poucos e estreitos acessos, como um gueto ou um castelo deve ter. Ao anoitecer - que acontece cedo - jovens de Copenhaga entram e saem de Christiania com um andar rápido, cabeça baixa e mãos nos bolsos dos casacos com capuz. Largos descampados com tralha vária, alguns arbustos e uma calçada de remendos fazem o espaço público do bairro. Existem alguns bidões de metal enferrujado com fogo a arder no interior, cercados de pessoas que se aquecem. Existem também algumas bancas de madeira que, se não tivessem caixas e sacos contendo diversas variedades de haxixe e marijuana, organizados por divisórias de cartolina com escritos, podiam facilmente ser a frente comercial de um puto de subúrbio norte-americano, vendendo limonada caseira aos vizinhos que passam. Os charros acendem-se em esplanadas improvisadas ou mais organizadas, junto a bares animados, com ou sem álcool a acompanhar - geralmente sem - com música a acompanhar - geralmente alta, áspera e envolvente, como o conforto de quem se abriga na tenda depois de caminhar pelo relento nocturno da mata. Aqui fazem-se amigos de uma noite só - têm-se conversas acesas pela mortalha. Há também alguns edifícios que contém lojas - de bicicletas, de tabaco, galerias de arte, - mas a maioria dos edifícios tem apenas uma entrada para um poço de escadas, de paredes cobertas por grafitis coloridos, quase todos com uma pessoa à porta metálica. Que guardam essas pessoas? Nada é visível nas janelas sobranceiras, a partir do nível do chão. Há, por toda a parte, uma inquietude confortável.

À saída de Christiania, um portal de madeira lê: "You are entering the EU".

- do substituto escandinavo

5 comentários:

Isabel disse...

gosto do desenho e da pequena história sobre Christiania. o pequeno paraíso hippie da EU

PeF disse...

Grande relato e desenho. Gosto muito.

Pedro Loureiro disse...

Obrigado. À primeira não era um ambiente fácil. Era intimidador. Depois, com a música e a cerveja, os mistérios à volta tornaram-se mais amigáveis.

B.Braddell disse...

eheheh..a bebida moderada ajuda no desenho de facto...gosto muito!!

geraldo roberto da silva disse...

Muiiito bom! Belíssimo traço!