Estes tempos de quarentena são tempos de REFLEXÃO, de
olharmos para nós próprios. Por isso proponho-vos arriscarmos o auto-retrato.
E, confesso-vos desde já, nunca tinha feito o meu auto-retrato (se
excluir um que tentei em jovem com pastel, mas nunca acabei). Mas essa pode bem
ser uma das motivações destas oficinas, atirarmo-nos ao que nos é pouco
familiar, desafiarmo-nos, experimentarmos e, quem sabe, descobrirmos uma via
que nos poderá apetecer levar mais longe.
E o desafio é trabalhar só com mancha! Hoje as linhas ficam
a descansar. As linhas são muitas vezes limitadoras, demasiado definitivas.
Quando falhamos, ficam lá a lembrar-nos o nosso erro. A mancha, pelo contrário,
pode começar por sugerir apenas, possibilitando corrigir, afinar, na próxima
pincelada.
Para esta oficina peguem nas vossas aguarelas, escolham uns
bons pincéis (evitem se puderem o pincel de água), um maior para as manchas e
um fino para os detalhes.
Quanto a cores para o tom de pele sugiro o Vermelho Veneza
(Venetian Red da Sennelier), mais diluído para o tom geral, com mais pigmento
para as áreas sombreadas. Em alternativa há quem use um vermelho (Carmim de
Alizarina/Aliz Crimson Lake de Sennelier) e um amarelo (Amarelo Limão/Lemon
Yellow da Sennelier).
Vermelho Veneza Amarelo Limão / Carmesim de Alizarina
Para esta oficina vale a pena ter presente as noções básicas
das proporções da cabeça humana, de modo a evitarmos aquela pincelada menos
pensada de que nos arrependemos de imediato. Ter a noção de como podemos
dividir a cabeça humana, o alinhamento dos olhos com o topo das orelhas, da
base destas com a ponta do nariz, a relação dos olhos com os limites dos
lábios. Se quiserem podem ver um vídeo com uma explicação mais detalhada (CLICAR).
Importa igualmente ter uma ideia dos traços básicos dos
elementos da nossa cara:
- OS OLHOS
(atenção aos diferentes contornos superior e inferior – e procurar
colocar o ponto branco do brilho)
- O NARIZ
(que às vezes basta representar apenas a sua base, através
da sua sombra)
- A BOCA
(além do contorno dos lábios, atenção à linha que separa o superior
do inferior – a boca pode ser representada apenas pelo lábio superior, sempre mais
escuro, e pela sombra que o inferior cria no queixo)
Se forem desenhar para a casa de banho, procurem não estar
debaixo da luz para evitar sombras muito marcadas. Tentem afastar-se para que a
luz não vos incida na vertical. Outra alternativa é utilizarem um espelho de
mesa e instalarem-se de modo a receber a luz pelo lado.
Ter presente que, na aguarela, devemos começar dos tons mais
claros para os mais escuros. E atenção: aproveitar a mancha ainda húmida se
queremos que as cores da nova fase se misturem com a anterior, ou deixar secar
entre as várias fases, se pretendemos manchas bem definidas, com detalhe.
FASE 1 - Após se observarem com atenção durante algum tempo,
apreendendo as características especificas da vossa cabeça, comecem com o
pincel maior por uma mancha de cor bem diluída a representar a forma geral do rosto.
Reservem áreas em branco nas zonas mais iluminadas, normalmente a “face”
superior das maçãs do rosto (lembrem-se do famoso “triângulo de Rembrant, que
marca essa zona).
FASE 2 - De seguida, ainda com o pincel maior mas com um
pouco mais de pigmento, procurem em gestos soltos representar as zonas de maior
sombra – as cavidades oculares, a base do nariz e talvez um dos lados da cana,
o lábio superior, a sombra do lábio inferior e a base do queixo.
FASE 1 FASE
2
As manchas obtidas, mesmo que não perfeitas, permitem visualizar
o pretendido e podem ser corrigidas, aperfeiçoadas na próxima fase.
FASE 3 - Para finalizar, com o pincel de detalhes e o tom
mais escuro, definir os olhos, as narinas, o cabelo e (no meu caso) a barba. Ter
o cuidado de reservar algumas zonas do cabelo para transmitir o seu brilho, e igualmente
nos olhos para conseguir o brilho da pupila.
FASE 3 FASE 4
- FASE 4 - Para terminar acrescentem os detalhes finais
(óculos, recorte do camisola, definir os lábios, algumas sombras adicionais, etc.
Concluam com umas manchas mais aleatórias para enquadrar (roupa,
contexto) humedecendo primeiro com água e só depois aplicar a cor em pinceladas
rápidas.
Atentem no zoom seguinte a importância de definir bem a
boca, com o lábio superior mais escuro e a sombra projectada pelo lábio inferior. No final, quem quiser pode recorrer à caneta branca e acrescentar uns cabelos teimosos, o brilho na pupila ou uns tracinhos no lábio inferior, que é o que brilha.
Bons retratos!! Percam o medo e deixem-se surpreender pelas
manchas de aguarela.
E não se esqueçam das etiquetas #quarentenadesenhada e #weboficinas.
12 comentários:
Espetacular!
Estive a ler tudinho! Obrigada!
Aasim que puder, mãos à obra!
Obrigada Luis, maravilha!! Quando acabar os “to do”’s também me vou pôr ao espelho!
Boas dicas! Obrigada!
Obrigada!! Bora lá autoretratrarmo-nos!
Gosto! daqui a nada já me vou olhar com olhos de ver!
Muito bem, já me convenceste, vou fazer depois do almoço.
Vamos a isso!
Brutal Luís!!! Obrigada!
Impec Luís! Com lições destas, vale a pena! :D
Já comecei o meu. Fase de secagem.
Obrigada. muito útil com boas dicas. Vou tentar.
Aprendi imenso...a dificuldade foi pôr em prática ...
diverti-me imenso a fazer o boneco.
Obrigada pela vossa iniciativa
Helena
Boa! Estás bem parecido. Sempre bom aprender mais. Abraço.
Enviar um comentário