Há alguns dias o festival de Fado Caixa Alfama acolheu o Fado em todo o bairro de Alfama. Nos dois dias do festival a noite acabava num palco junto ao rio.
Este desenho foi feito durante o espectáculo de Marco Rodrigues. Mais tarde adensei o negro em alguns pontos do desenho para que a noite ficasse mais intensa, mas praticamente tudo o mais ficou na expressão do momento.
Eu estava numa das bancadas, a uma certa distância, onde, durante o espectáculo, não chegavam as luzes do recinto nem dos projectores que iluminam o palco. Por isso o desenho foi feito praticamente às escuras. Apenas em um ou outro momento havia um projector que fazia a luz incidir na audiência durante alguns segundos, que me permitiam manter as referências visuais do desenho e ir verificando o que acabara de desenhar, mas a maior parte do tempo tinha apenas uma vaga noção do que estava a fazer. Curiosamente a pouca visão do que fazia despertou em mim o uso dos outros sentidos. Senti que todo o meu corpo participava no desenho, os outros sentidos vieram em auxílio da percepção, e o desenho foi resultando da interessante relação que o corpo tem com o espaço, muito para além da visão.
Afinal, talvez seja isso que é a visão, a nossa capacidade interior de iluminar o que vemos a partir de um canto profundo da alma. Como o Fado.
4 comentários:
...que belo está,Isabel...
...e com muita. Alegria..
Gostei muito do teu desenho e do texto que o acompanha.
Ana
Já tinha visto:)
É tudo muito bonito: desenho e reflexão.
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