Como é que se arrisca no património de uma cidade? Ele que é muito mais rico pelas suas misturas culturais do que pelas dos tijolos e pedras diferentes?
Eu que gosto tanto de viajar e entranhar-me nas diferenças culturais, percorri esta rua com um sorriso na cara, as narinas bem abertas a cheirar o caril e o olhar atento como quem vê tudo pela primeira vez.
Não somos apenas nós que somos territórios híbridos, cheios de influências de pessoas que nos marcam ou de experiências de vida. As cidades também transpiram e expõem cá para fora a mescla da humanidade. Lisboa, pelo menos, tem isso tudo.
E se no Intendente andamos claramente pela Ásia, logo a seguir, na rua que desce do Hospital de S. José para o Largo de S. Domingos passamos pelo continente africano. Num curto espaço de tempo é possível falar com o Abdur Rahim, do Bangladesh, que sorria muito e mal falava português, para, logo depois, desenferrujar o crioulo da Guiné com o Carlos Baldé. E sabe-me sempre tão bem perguntar a um guineense:
- Cumá qui bu mansi?
Para ouvir sempre a mesma resposta:
- Mansi drêtu.
Ah... esta Lisboa... :)
11 comentários:
Gosto imenso das tuas composições... As desenhadas e as escritas.
Extraordinário post Mário! A composição dos teus desenhos é de facto arrebatadora, também gosto muito.
Estava eu a desenhar à porta de uma loja, e os donos já tinham metido conversa, emprestado um banco e tudo. Às tantas chega o Mário e quer desenhar o Abdur no caderno... só que ele pensa que o Mário quer comprar um caderno. Com tradutor pelo meio lá conseguiu autorização para desenhar "a pessoa mais importante da loja". O resultado está excelente.
Mas isto é património, o património das pessoas.
:-)
Está extraordinário.
j
Uma grande maneira e sintetizar o evento.
Património humano e físico. Gosto muito de ver os desenhos das pessoas com o nome associado e uma estória. E excelentes composições!
O encadeamento, o sentido das sobreposições, as palavras, fazem do Mário um dos exemplos que mostro -orgulhosamente- sempre que falamos em cadernos... em desenho aqui nos Açores!!!
Obrigado a todos.
Confesso que cada vez tenho mais vontade de desenhar as pessoas de forma descarada, sem ser à socapa, meter-me com elas, ouvir-lhes a voz e dar-lhes a importância no papel que elas merecem.
Desenhar à distância tem um quê de voyeur que só interessa como exercício de desenho, mas deixa a minha experiência um pouco mais vazia de sentido...
E é o caderno que permite esta constante descoberta...
:)
Ah... este Mário! Que maravilha, textos e desenhos!
excelente. adoro a composição. parabéns
Que páginas lindas!
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