(continuação do post anterior)
Ataíde progrediu na carreira mais rapidamente que os seus colegas do Casão Militar, saltando várias categorias de uma vez só. Ainda no exército, trabalhou breves anos na carpintaria. À semelhança do seu pai, pela habilidade, caiu nas boas graças dos seus superiores que lhe encomendavam pessoalmente trabalhos. “Quem ia para casa dos oficiais era o Neves” conta, empregando a terceira pessoa do singular para se distanciar do jovem talentoso que foi. O corte da ponta de um polegar valeu-lhe mais uma promoção e o regresso à correaria.
O tom neutro e desapegado com que relata os sucessos passados do Neves revela uma homem desinteressado pelos louros. A paixão de Ataíde Neves não é o sucesso nem o dinheiro, nem sequer o fascínio pelos cavalos, que tanto magnetismo exerce junto de tantas pessoas. Ele apenas se revela apaixonado pelas suas filhas e pelos seus ofícios. Encara cada encomenda como um projecto em que deposita planeamento cuidado, mestria de execução e entrega a um resultado final de qualidade.

Entre os objectos que produz, juntamente com a esposa costureira, encontra-se todo um vocabulário exclusivo ao universo dos cavalos – cabeçadas Portuguesas de meia cortesia, cabeçadas à Inglesa, serrilhões, cilhões de volteio, arreios, rabicheiras, selas à Portuguesa ou à Relvas – tudo feito à mão. Repudia o material vendido por grandes cadeias de material de desporto, fabricado em série, mas assegura que estas não lhe fazem concorrência. A experiência provou-lhe que há muita gente que aprecia o material feito à mão, genuíno e robusto, em particular cavaleiros com mais experiência.
Inesperadamente, esta pequena loja no seio do «Jockey» parece ter encontrado o Santo Graal do empreendedorismo em Portugal. É difícil a Ataíde garantir um número preciso, mas afirma que cerca de 85 a 95 porcento do material que vende é para lá da fronteira. Exporta principalmente para Áustria, Suíça, Alemanha, França. E tem até pedidos de reparação de material do exterior. A sua publicidade é a mais simples: o passa-palavra e os clientes satisfeitos. Os seus maiores divulgadores são cavaleiros que usam o seu material em exposições, feiras e competições. Não lida com internet ou correios para gerir as encomendas. Um seu cliente português que viaja frequentemente para locais-chave, encarrega-se de lhe levar as encomendas aos clientes estrangeiros. O PIB agradece.

A localização da loja já é por tradição e por conveniência, mas Ataíde afirma que não sobreviveria apenas com a freguesia do «Jockey». Os sócios do clube apreciam os seus serviços, mas desdenham que Ataíde faça negócio fora do círculo.
Se são as exportações que lhe dão o ganha-pão, os clientes invulgares despertam-lhe a curiosidade. Leonor Antunes, artista plástica Portuguesa de projecção internacional, baseada em Berlim, faz uso de materiais vernáculos nas suas esculturas inspiradas por grelhas e estruturas arquitectónicas. O cabedal para as suas peças discrepancies with M.S. #2, Random Intersection #8, ou A secluded and pleasant land. In this land I wish to dwell, esta última exibida em Miami em 2014, foram encomendas executadas por Ataíde, na sua minúscula oficina impregnada com o cheiro a conforto do cabedal, instalada entre o acre das boxes e picadeiros, escondida à beira do Campo Grande. Nunca chegou a visitar as exposições, apesar de ter sido convidado pela própria artista. Raramente viaja sem ser para a sua aldeia no vale do Zêzere, de que gaba a beleza natural. Não gosta de deixar a esposa e as filhas por muito tempo, em particular a filha mais velha, de 28 anos de idade, cuja condição patológica tem dificuldades em contornar ao longo da conversa.

Queixa-se Ataíde da falta de tempo e de espaço. De tempo para trabalhar em projectos de que gosta realmente, como uma boa sela, seguindo os modelos que a sua loja costumava oferecer. “Uma sela, um arreio é o topo da profissão.” conclúi. De espaço para receber formandos que o ajudem ou dêem continuidade ao seu trabalho. Mas surpreendentemente, e contra-corrente de tantas empresas em Portugal, Ataíde Neves não se queixa de falta de trabalho.
O tom neutro e desapegado com que relata os sucessos passados do Neves revela uma homem desinteressado pelos louros. A paixão de Ataíde Neves não é o sucesso nem o dinheiro, nem sequer o fascínio pelos cavalos, que tanto magnetismo exerce junto de tantas pessoas. Ele apenas se revela apaixonado pelas suas filhas e pelos seus ofícios. Encara cada encomenda como um projecto em que deposita planeamento cuidado, mestria de execução e entrega a um resultado final de qualidade.

Entre os objectos que produz, juntamente com a esposa costureira, encontra-se todo um vocabulário exclusivo ao universo dos cavalos – cabeçadas Portuguesas de meia cortesia, cabeçadas à Inglesa, serrilhões, cilhões de volteio, arreios, rabicheiras, selas à Portuguesa ou à Relvas – tudo feito à mão. Repudia o material vendido por grandes cadeias de material de desporto, fabricado em série, mas assegura que estas não lhe fazem concorrência. A experiência provou-lhe que há muita gente que aprecia o material feito à mão, genuíno e robusto, em particular cavaleiros com mais experiência.
Inesperadamente, esta pequena loja no seio do «Jockey» parece ter encontrado o Santo Graal do empreendedorismo em Portugal. É difícil a Ataíde garantir um número preciso, mas afirma que cerca de 85 a 95 porcento do material que vende é para lá da fronteira. Exporta principalmente para Áustria, Suíça, Alemanha, França. E tem até pedidos de reparação de material do exterior. A sua publicidade é a mais simples: o passa-palavra e os clientes satisfeitos. Os seus maiores divulgadores são cavaleiros que usam o seu material em exposições, feiras e competições. Não lida com internet ou correios para gerir as encomendas. Um seu cliente português que viaja frequentemente para locais-chave, encarrega-se de lhe levar as encomendas aos clientes estrangeiros. O PIB agradece.

A localização da loja já é por tradição e por conveniência, mas Ataíde afirma que não sobreviveria apenas com a freguesia do «Jockey». Os sócios do clube apreciam os seus serviços, mas desdenham que Ataíde faça negócio fora do círculo.
Se são as exportações que lhe dão o ganha-pão, os clientes invulgares despertam-lhe a curiosidade. Leonor Antunes, artista plástica Portuguesa de projecção internacional, baseada em Berlim, faz uso de materiais vernáculos nas suas esculturas inspiradas por grelhas e estruturas arquitectónicas. O cabedal para as suas peças discrepancies with M.S. #2, Random Intersection #8, ou A secluded and pleasant land. In this land I wish to dwell, esta última exibida em Miami em 2014, foram encomendas executadas por Ataíde, na sua minúscula oficina impregnada com o cheiro a conforto do cabedal, instalada entre o acre das boxes e picadeiros, escondida à beira do Campo Grande. Nunca chegou a visitar as exposições, apesar de ter sido convidado pela própria artista. Raramente viaja sem ser para a sua aldeia no vale do Zêzere, de que gaba a beleza natural. Não gosta de deixar a esposa e as filhas por muito tempo, em particular a filha mais velha, de 28 anos de idade, cuja condição patológica tem dificuldades em contornar ao longo da conversa.

Queixa-se Ataíde da falta de tempo e de espaço. De tempo para trabalhar em projectos de que gosta realmente, como uma boa sela, seguindo os modelos que a sua loja costumava oferecer. “Uma sela, um arreio é o topo da profissão.” conclúi. De espaço para receber formandos que o ajudem ou dêem continuidade ao seu trabalho. Mas surpreendentemente, e contra-corrente de tantas empresas em Portugal, Ataíde Neves não se queixa de falta de trabalho.
7 comentários:
excelente reportagem
Belíssima reportagem.
Óptimo!
...como gostei de conhecer esta história de excelência tão bem contada e desenhada...
Perfeito. O texto e os desenhos.
Excelente!
Desta vez ressalto as palavras. Que bem escrito, Pedro!
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