Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Serra d'Arga






Eram 11h30. Fiz uma visita ao mosteiro. Não estava lá ninguém. Abri o portão e entrei. Nunca tinha estado sozinho naquele espaço. Foi estranho porque sentia-me por um lado intimidado, talvez por causa de uma série de informações que tenho relativamente à Serra d’Arga, e por outro fascinado e, de certa forma, confortável. Peguei no caderno, sentei-me num degrau e comecei a desenhar a capela. Estava muito frio. Todo o espaço estava em sombra. A meio do desenho já tinha a minha mão esquerda, que segurava no caderno, congelada (não que a direita estivesse melhor). Pensei em pegar nas luvas que estavam na mochila… mas também pensava “Só mais um bocado e já está”. Mais um risco aqui, outro ali, passava o tempo a cor das minhas mãos.

Depois, ao perceber as pedras em volta da capela (murete), onde os peregrinos dão 3 voltas de joelhos à capela (para cumprir uma promessa) e de seguida dão 2 esmolas, uma ao santo e outra ao diabo (não vá ele ficar de mal com a pessoa), quis registar uma vista de topo e uma lateral onde se encontra a capela das esmolas, supostamente construída por cima de uma sepultura de um monge beniditino. Reza a lenda que qualquer animal que passasse por cima daquela sepultura, ficava endiabrado e partia as pernas…

De seguida fui a São João d’Arga. Queria conhecer melhor o “Lugar de Santo Aginha” (o ladrão que virou santo). Estacionei o carro. Uma senhora ia a passar e meteu conversa: “Está friiioo!”. Eu confirmei e acrescentei: “Mas isto mais logo é bem pior!!”. Ela sorriu e, com um aceno de cabeça, confirmou também. Tivemos uma pequena conversa e depois prosseguiu. Ia muito lentamente, apoiada com uma bengala na mão direita e o cajado na esquerda, para a sua bouça ver as ovelhas. Disse: “Enquanto a gente pode andar em quatro pernas……… não é?!”. Sempre a sorrir. Não é primeira vez que me cruzo com esta mulher na serra…

Segui para o Lugar do Santo Aginha. Um lugar para explorar com mais tempo… fiz um registo de três galinhas, que pareciam andar perdidas na rua, e um edifício muito antigo que parecia servir de celeiro.

Eram 15h30

Serra d’Arga, Portugal, 23.01.2012

7 comentários:

hfm disse...

Belo desenho. Bela crónica.

Pedro disse...

Já estou cheio de vontade de passear na Serra d'Arga.

Manuela Rosa disse...

Aquela árvore no primeiro desenho... Parabéns pelo conjunto e pelo texto. Vou tentar não faltar à tua conferência em Lisboa!

Tiago Cruz disse...

Obrigado Helena, Pedro e Manuela. Um encontro dos USk aqui nestas aldeias era um fim-de-semana bem passado! Quem sabe daqui a uns tempo… hmmm

Rosário disse...

Gosto muuuito!

Maria Celeste disse...

...os desenhos e o texto lavam a alma...
obrigada

Tiago Cruz disse...

Obrigado Rosário e Celeste!