No frio da manhã alentejana, o grupo foi começando a crescer em frente à escola - ponto de encontro. Apresentações, primeiras conversas, café para aquecer, e seguimos para o monte onde se ia dar a matança.
No monte, enquanto o sol já começava a aquecer, o bicho oferecia resistência. Entre quatro a cinco homens trabalhavam para subjulgar a porca, que lutava lá à sua maneira.Aplicado o golpe fatal, a preocupação era recolher a maior quantidade de sangue para dentro de um balde de plástico. Os guinchos de arrepiar foram amenizando. A matança estava concluida.
Com o silenciar da porca, voltaram os sons normais do monte, as aves, as conversas à volta de como tinha corrido a matança. Aproximaram-se alguns galináceos, a picar o chão, curiosos sobre o sangue que não tinha vertido para o balde. A porca foi levada para a bagageira da carrinha.
De volta à escola, enquanto que no pátio solarengo a porca era depilada com maçarico e faca, na cozinha da cantina já se trabalhava nos preparativos para o almoço.
No entretanto, iam sendo servidos da cozinha enchidos, costeletas, pão, vinho, limão e rábano cru - para cortar a gordura.
Retiradas as tripas e outros órgãos afins, lavou-se o interior do animal à mangueirada.
Durante cerca de três horas, assistimos ao processo de passagem da fronteira indefinida em que a porca deixa de ser animal para passar a ser comida. A sua transformação de pig em pork, como dizem em inglês.
Antes do desmancho, pesaram a porca com uma balança de vara (que não coube no caderno).
Na cozinha, preparavam-se já os restos mortais do bicho, em receitas separadas: numa frigideira, refogavam o estômago, os rins e o fígado, com muita salsa e coentro; num grande tacho fervia a esponjosa gordura, que ia libertando a banha líquida. Esta era coada e recolhida em pequenos baldes de plástico. No final, quando a gordura deixasse de libertar o líquido, torrava até à forma de torresmo.
Durante o desmancho, iam aparecendo mais convivas. Aqui, o Luís Ançã desenha junto à estranha personagem do capote e da boina.
Finalmente, começou o repasto. Uma sopa que por si só já era uma refeição, as diversas partes da Marranita, a porca sacrificada, e um pequeno festim de sobremesas, incluindo dois bolos de ovos e massapão esculpidos à imagem da porca. Fiquei na mesa do Pereira, do chefe Rui Amendoeira - em suma, da malta com nome de árvore, bem enquadrado, portanto - e da estranha personagem, agora sem capote e sem boina.
A meio da tarde, tempo para uma passeata por Reguengos em busca de café aberto, e tempo para um último desenho, a alguns dos sketchers de serviço.
10 comentários:
...grande reportagem Pedro...
...foi como estivesse também na parte da matança de manhã cedo...
Muitos parabéns e obrigada...
Txii isto está muito descritivo. Demais até lol
Parabéns! Espero que tenhas gostado da minha antiga Terra ; )
Se eu fosse director de um jornal, publicava já este artigo!
Foi de facto um dia fantástico. A tua descrição, não podia ser mais fiel. Bons desenhos complectam cada uma das fases. Está ums bom trabalho
brutal pedro!!!magnificos!!!!
Fantástico conjunto de desenhos: destaco o da mesa posta e o das facas. Mas todos, e completados com texto, são uma preciosidade.Concordo com o Mário: podia ser publicado! Parabéns!
Gosto muito desta reportagem: o início das páginas com poucas linhas que se vão preenchendo a medida que o porco se transforma em comida!
Fantástico, Pedro!
Muito obrigado a todos!
E - faltou esta parte no corpo de texto do post - um grande agradecimento também à malta de Reguengos que proporcionou esta oportunidade, e que trabalhavam arduamente no bicho e na cozinha enquanto nós pudemos desenhavar e petiscar!
Muito bom, Pedro. Uma excelente reportagem com desenhos magníficos.
Gosto muito! Aquela mesa está um espectaculo!
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