
Quando há tempos eu descia a Alameda do Parque Eduardo VII, deparei com algumas filas de pessoas a aguardarem pacientemente um autógrafo dos respectivos autores de livros. Mas havia um Senhor sentado debaixo de um toldo azul, com ninguém ou quase ninguém próximo. Por ser um contestatário, pensei? Fiquei mais alguns bons minutos a observá-lo. Embora aconchegado à sombra, parecia estar isolado ou talvez fosse diferente dos outros? Na altura não pude adquirir um livro seu. Resolvi então fotografá-lo. Contudo, para não profanar a expressão facial com os meus característicos rabiscos, nesta data, decidi postar apenas as referências peculiares dum escritor, assim como o nome de uma editora que soube ultrapassar algumas boas barreiras: ontem viveu, hoje multidões rendem-lhe homenagem e amanhã independentemente das opiniões, a sua imagem há muito internacional, perdurará. Assim, eu espero conseguir saber comunicar o que testemunhei… Quanto à foto, esta irá ser conduzida para uma outra oportunidade.
3 comentários:
"Não há nada mais triste que uma ausência (...), só fica uma pungente melancolia, esta que faz (...) sentar ao cravo e tocar um pouco, quase nada, apenas passando os dedos pelas teclas como se estivessem olhando um rosto quando já as palavras foram ditas ou são de menos." - no Memorial do Convento.
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«Que tens, perguntou-lhe a mulher, e ele respondeu estupidamente, sem abrir os olhos, Estou cego, como se essa fosse a última novidade do mundo, ela abraçou-o com carinho, Deixa lá, cegos estamos nós todos, que lhe havemos de fazer, Vi tudo escuro, julguei que tinha adormecido, e afinal não, estou acordado. É o que deverias fazer, dormir, não pensar nisso.» (Ensaio sobre a cegueira, pág. 306)
Comentários feitos de forma singular, apenas através de excertos de livros diferentes do mesmo saudoso escritor. Fiquei uma vez mais satisfeita por ter conseguido passar a mensagem. Muito obrigada a ambos.
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