Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


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sexta-feira, 17 de julho de 2015

Azarujinha

Próxima Estação... São João do Estoril. Assim continua a minha viagem, nesta direcção, no sentido contrário à rotina. Dizia o pensador Francês Marcel Proust que “A viagem da descoberta consiste não em achar novas paisagens, mas em ver com novos olhos”. Nesta viagem nada é novo, tudo me é alias bastante familiar, as estações sucedem-se num alinhamento cada vez mais próximo de casa, só o facto te ir de comboio para a praia ganha sabor a adolescência, assim como o som do trim trim da única passagem de nível ainda existente junto à estação de São João. Aqui acabam os Estoris, dizia-se de forma trocista no início do séc.XX, Cascais – nobreza, Monte Estoril - grandeza, Estoril – grandela, São João – meia tigela! Ilustração de uma estratificação social que assim classificava a sucessiva ocupação e edificação dos terrenos para nascente. São João do Estoril foi ao longo do tempo sucessivamente retalhada, primeiro pelo Caminho de ferro que delimitou a fronteira entre alguma populacão rural residente a norte e as construções apalaçadas de veraneio a sul. Mais tarde com a construção da marginal que aqui bifurcou e separou o lado sul em retalhos, caminhos e becos sem saída. No caminho sinuoso para a praia passa-se pelo Santini com a menor fila à porta que se conhece, alguns metros à frente depois de virar a esquina sou tentado a entrar numa drogaria de bairro que pensava já não poder existir ali. Tudo ainda se vende naquele lugar fiel ao cheiro próprio das drogarias antigas, que nunca soube identificar a proveniência, provavelmente fruto da soma de todas as proveniências que estão expostas nas prateleiras, penduradas no tecto ou nas paredes. A porta abre directa para o tráfego de um dos sentidos da marginal, a drogaria Rodrigues é um exemplo ainda vivo do tempo em que estas ruas eram feitas a pé ou a uma velocidade de passeio. De manhã enquanto não se levanta a nortada e a briza vem do mar, quando se atravessa a segunda via da marginal já cheira a algas. Uns metros à frente antes de descer pelos sucessivos degraus de acesso à praia tem-se uma vista elevada sobre o pequeno areal da Azarujinha e a transparência da água. Talvez seja esta a mais mediterrânica praia urbana de Portugal, talvez a mais bonita praia da linha, talvez Proust tenha razão, viajar não tem a ver com a distância, a melhor maneira de ver com novos olhos talvez seja mesmo fazer um desenho.

7 comentários:

USkP Convidado disse...

um poeta este desenhador
Fátima Santos

Maria Celeste disse...

...que bom ver com os olhos sempre novos de um desenhador...
...este tema é muito rico e diz tanto aos afectos das pessoas...
...gosto, muito...

Eduardo Salavisa disse...

O desenho e o texto são excelentes crónicas.

nelson paciencia disse...

João, ficamos embasbacados com estas postadas que fazes... eu pelo menos fico.

Pedro Loureiro disse...

(levanta-se e aplaude fortemente!)

Ana Crispim disse...

Excelentes, claro

Teresa Ruivo disse...

Ainda faltam várias estações, que bom... (E enquanto isto, acompanho o Pedro Loureiro!)