Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


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domingo, 30 de abril de 2023

Bilbao, 2023 - Parte I

 
 
Bilbao. Abril de 2023. Parte I
6:30. Chegamos ao antigo aeroporto da Portela, atual Humberto Delgado. Uma correria de carros e pessoas, mesmo a esta hora. O ruído dos trolleys concorre com o dos aviões que chegam e/ou partem. Esta é a verdadeira "cidade que nunca dorme", uma cidade do mundo. No interior, para variar, encontramos mudanças. Como uma boa cidade que é, o aeroporto tem de estar sempre em obras, nem que seja para justificar os impostos que pagamos. Tanta gente, tanto mundo. De onde vêm? Para onde vão? Os preços no aeroporto estão cada vez mais pornográficos, talvez por isso só tenhamos dois locais de culto na zona da restauração: o WC e a FNAC. Quanto ao WC dispensam-se detalhes. Já na FNAC, importa registar que as capas dos jornais estam repletas de notícias sobre a gestão "criativa, irresponsável e insultuosa" da TAP. Julgo que foi a primeira vez que não comprei um único jornal, pois este assunto leva-nos a sofrer de vergonha alheia. Eis que abrem a "porta" do Voo TAP 1066-Bilbau. Lá em baixo, na pista, está a aeronave de seu nome Santarém, um bimotor de hélice.


Antes de entrarmos, assistimos a um episódio caricato: Um cidadão brasileiro a discutir com um funcionário da TAP. O viajante estava a embarcar para o voo com destino a Zurique, fazendo-se acompanhar de uma mala e um saco de plástico com quatro ou cinco garrafas de vinho. "Não pode levar isso". "Não posso porquê, se eu paguei?". "Excesso de carga". O Cidadão tira roupa da mala para arranjar espaço para as garrafas. Depois de vestir três casados e duas camisolas, só conseguiu arranjar lugar para duas garrafas. Depois de uma longa e acessa discussão, eis que dois viajantes se aproximam, falam com o cidadão brasileiro e com os três funcionários da TAP que ali estavam a "acalmar" o reclamante. No final, ofereceram-se para levar as duas garrafas, garantindo que depois as entregariam em Zurique. Todos aceitaram o tratado de paz. Estas duas almas caridosas deviam ser convidadas para negociar a paz entre a Rússia e a Ucrânia. 
Entrámos no minúsculo "Santarém", que mais parece ter vindo do aeródromo de Santa Cruz. Parece aquilo a que os oestinos chamam de "avioneta". Pior que a dimensão, só mesmo o estado de conservação dos bancos que em tempos terão sido confortáveis. O serviço da TAP vem-se degradando de voo para voo. Se é esta a bandeira que queremos, há que tratar da dita cuja, mas sem irem novamente aos bolsos dos portugueses. No meio da viagem, minutos antes da violenta e duradoura turbulência, é-nos oferecido uma espécie de lanche cuja qualidade está quase ao nível do conforto dos bancos. Salvaram-se o copo de água e as bolachas, aquele lanche que ao fim de 5 dias internados num hospital, é saboreado como um manjar dos deuses. Ouvimos os motores do avião como se fossemos na rua. Não conseguimos ouvir as "hospedeiras" da TAP que já estão baralhadas, pois já não sabem que "bandeira" queremos preservar, caso contrário não passavam o tempo todo a falar um inglês macarrónico num voo onde 90% dos tripulantes eram portugueses. A parte positiva deste voo foi  a baixa altitude de todo o trajeto, permitindo-nos apreciar a paisagem portuguesa e a espanhola. Em Portugal, os comboios nem vê-los, já em Espanha andavam hiperativos. Aterrámos, por volta das 12h (Es). A proposta de transfer que nos tinham apresentado, rondava os 90€, para uma viagem que não demorou mais de 10 minutos de autocarro e que nos custou 9€ (três pessoas). Às 12h30 chegámos ao centro de Bilbao e somos recebidos pelo Poeta Ramón de Basterra (1888-1928).

  
.Faz-se o primeiro passeio de reconhecimento. Os bares já estavam repletos, apesar do frio que se fazia sentir e da chuva que ia e voltava sem se cansar. Saímos de Portugal com um calor de Verão e Espanha recebe-nos com frio e chuva. Os bares e esplanadas estão preparados para este clima e os espanhóis ainda mais. Não abdicam do convívio dos bares, sobretudo à tarde quando saem do trabalho. Dos mais novos aos mais velhos, dos mais pobres aos mais ricos, dos homens às mulheres, são todos bem vindos. A primeira "grande verdade" no campeonato de diferenças entre portugueses e espanhóis, está confirmada - os espanhóis gostam mais do convívio diário em espaço público. A segunda, também confirma-se: os espanhóis não fazem o menor esforço para compreender o português. 
Um dos aspectos que gostamos nas cidades, é a sua relação com o rio, sempre que este exista claro. Gostamos do "andar cá e lá", ao "sabor do vento" ou dos pontos referenciais que nos vão atraindo e ditando o percurso. O roteiro vai-se fazendo, sem compromissos. As pontes são locais de encontro e contemplação. Eis que vislumbramos um dos pontos referenciais que vai orientar-nos durante toda a estadia. Trata-se da torre da Iberdrola, com 165 metros, construída entre 2007 e 2011, estando localizada junto ao famoso Museu Guggenheim Bilbao do ainda mais famoso arquitecto Frank Gehry





1 comentário:

Rosário disse...

Tirando as partes menos boas da viagem, Bilbao vale a pena e os desenhos assim o dizem!