Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


Pensamos que o Diário Gráfico melhora a nossa observação, faz-nos desenhar mais e o compromisso de colaborar num blogue ainda mais acentua esse facto. A única condição para colaborar neste blogue é usar como suporte um caderno, bloco ou objecto semelhante: o Diário Gráfico.


Neste blogue só se publicam desenhos feitos de observação e no sítio

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Agenda dos Sketchers - Abril 2020



AGENDA DOS SKETCHERS
Abril 2020
Em quarentena desenhada

Em março com a entrada do país em quarentena os Urban Sketchers mobilizaram-se para encontrar alternativas para os encontros e para os workshops que foram suspensos devido à pandemia.
Assim surgiu o desafio Quarentena Desenhada lançado através do blogue dos Urban Sketchers Portugal ao qual os nossos associados aderiram em força.
O sucesso da iniciativa levou à criação de uma parceria com o suplemento digital do jornal Público P3 que podem consultar aqui:
https://www.publico.pt/2020/03/20/p3/fotogaleria/quarentena-desenhada-urban-sketchers-portugal-400787

Web Oficinas

Incluídas na Quarentena Desenhada surgiram também em março, no blog dos Urban Sketchers Portugal, as Web Oficinas, oficinas virtuais diárias, uma por dia até ao dia 5 de Abril, com 14 sketchers convidados que vieram propor uma técnica, dar uma sugestão, um exercício, partilhar connosco a sua forma de desenhar.



Os ecos da iniciativa já chegaram à Austrália como podem seguir nesta publicação do Richard Aitken.
Report from Melbourne: Urban sketching in the age of COVID-19


O Richard é um sketcher australiano que já passou por Portugal e com algumas publicações no blogue português com o nome de roybgiv.

Outros relatos desenhados do que se passa pelo resto do mundo como esta publicação sobre Darmstadt.


http://www.urbansketchers.org/2020/03/report-from-darmstadt-urban-sketching.html

Os desafios mensais também foram alterados. Devido à grande adesão à #quarentenadesenhada será o desenho mais comentado neste desafio o escolhido para figurar no cabeçalho do blogue USkP durante o mês seguinte.

Sabem o que é que o Delacroix fez quando ficou de quarentena no porto de Cádiz? Leiam o texto do Tomás Reis e não percam também os relatos da Ana Conceição e do Paulo Mendes e a entrevista ao Henrique Vogado.
Obrigado a todos e não se esqueçam de partilhar no blog e nas redes sociais os desenhos que fizerem com as etiquetas  #quarentenadesenhada ou #weboficinas.

Fiquem bem, fiquem em segurança!
 
Eugène Delacroix: desenhar para a liberdade
por Tomás Reis

Disseram ser talentoso como Rubens ou Miguel Ângelo. Delacroix, que estivera à margem dos acontecimentos políticos mais recentes, quis homenagear os heróis da Revolução de Julho de 1830. E fê-lo pintando a mulher que segura a bandeira tricolor da república francesa. Mas o célebre pintor não procurou apenas proclamar os valores liberais das revoltas; procurou libertar-se também do academismo que o toldava.
Dois anos depois, em 1832, surgiu uma oportunidade para viajar: fazer parte de uma missão diplomática pelo Magrebe. E assim, durante sete meses, de Janeiro a Julho, percorreu várias cidades marroquinas, deixando um conjunto de registos em vários suportes. O traço e a aguarela solta fazem adivinhar uma viagem serena. Contudo, não faltaram contratempos, quando as epidemias fizeram parar a comitiva. Ancorado de quarentena, Delacroix desenhou Cádiz vista do mar. A viagem marcou-o profundamente, tendo mais tarde escrito sobre a superioridade cultural do Magrebe, onde terá encontrado a antiguidade viva.




 
Desenhar em tempos de corona
por Ana Conceição




Entrámos em isolamento muito cedo, a 9 de março porque vivo com um professor e, na escola onde dá aulas, houve contaminação. Na nossa rua fomos “visitados” duas vezes por equipas de fatos “espaciais” que vinham buscar pessoas doentes com o novo vírus, começámos cedo, portanto, a sentir a gravidade. De repente, estávamos todos juntos, misturaram-se as rotinas e a casa começou a ficar pequenina. Timidamente lá fui desenhando, criando pequenas pausas do PC, e retratando o que via da janela ou o que estivesse à minha frente: família, gato, comida... Agora desenhar tem o seu tempo próprio e é uma “rotina” diária. Desenho sempre em casa, nunca quando vou à rua abastecer-me. Esses momentos são rápidos. Deixei cair o “urban” e passei a ser uma “homesketcher”. Esta é uma fase de incertezas, medo e tinha de passar para o papel, não só as novas rotinas, mas todo este sentir face ao que se passa hoje no mundo. O papel tornou-se assim o receptáculo. As meninas vão desenhando, colando, criando, acompanhando esta dinâmica que nasceu e cresce forte cá em casa, agora, todos os dias através do desenho. Desenhamos porque queremos manter junto de nós aquilo que nos faz felizes. E isso, agora, é o mais importante: escolher ser feliz perante o desafio lá fora. 




A Quarentena Desenhada
por Paulo Mendes

No momento da escrita, são doze os dias de confinamento. Para quem passa a maior parte do tempo sozinho não há grande estranheza, mesmo com saudades das deambulações e sem opção de poder estar com aquel@s de quem mais gosto. Na companhia de três felinos e mergulhado num novo e absorvente projecto, o tempo corre surpreendentemente depressa, não sendo raro olhar para o relógio e constatar que o dia praticamente passou...
Faço sempre um registo diário em cadernos. O “home sketching” tem particularidades próprias: No conteúdo, por obrigar a tirar o máximo partido de um espaço fechado, mostrando apenas o essencial seja por reserva de intimidade ou para fazer “render o peixe”; Na forma, pelas peculiaridades compositivas - é fantástico o potencial da desarrumação – os desafios da luz/sombra, os reflexos... Com tanto para explorar, e como um sketcher nunca se aborrece, estes dias difíceis passarão com certeza a correr.

Entrevista a Henrique Vogado
Associado nº 11

1. Como descobriste os urban sketchers?

Numa pesquisa que fiz em Outubro de 2008, fui dar com um blogue que seria lançado no mês seguinte, chamado Urban Sketchers.
No ano seguinte, em Maio de 2009, assisto à apresentação na Feira do Livro de Lisboa, do livro “Diários de Viagem”. Na apresentação o Eduardo Salavisa distribuiu pequenos cadernos para desenharmos na Feira. Os cadernos foram depois entregues na Editora e publicados na Revista “Ler”. Quando me devolveu o caderno, o Eduardo encorajou-me a continuar a desenhar.

2. Com que periodicidade desenhas?
Desenho todos os dias durante a semana, nos transportes públicos e nas pausas do almoço. Ao fim-de-semana é mais difícil, mas quando tenho possibilidade de ir a Encontros domingueiros aproveito para desenhar mais e com outros materiais.

3. Qual o teu local preferido para desenhar e porquê?
O meu local preferido acaba por ser na travessia diária de barco entre o Barreiro e Lisboa. É aí que tenho tempo para pegar no caderno, desenhar pessoas ou situações. A travessia de cerca de 20 minutos possibilita começar e terminar um desenho.
 
4. Quando decides acabar um desenho?
Já foi mais difícil terminar um desenho. É uma pressão e uma frustração ao início, mas com o tempo é como se fosse um diálogo entre “ele” e nós. E quando chegamos à fase da conversa de circunstância e sem mais interesse, percebo que é tempo de terminar a “conversa” e não desenho mais.

5. Qual a tua proposta de desenho para o período de quarentena que atravessamos?
Para quem não estiver sozinho, um belo duelo marido-mulher ou pais-filhos.

 
Henrique Vogado por Pedro Loureiro
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Web Oficinas

Já realizadas
23 de março - António Procópio -  Procopiar o WC
24 de março - Pedro Loureiro - Céus
25 de março - Luís Frasco - Quarentena é tempo de reflexão
26 de março - Luís Ançã - As mãos que desenham no caderno os objectos em cima da mesa e mais além
27 de março - Zé Louro - Lilliput e Brobdingnag
28 de março - Fernanda Lamelas - Estamos a passar por momentos surreais...
29 de março - Eduardo Salavisa - Da tri para a bidimensionalidade
30 de março - Filipe Pinto - Variações sobre um Tom
31 de março - Suzana Nobre - Lá fora dentro de casa
01 de abril - Paulo Mendes - Musealizemo-nos!

Próximas oficinas
02 de abril - Mário Linhares
03 de abril - Pedro Cabral
04 de abril - Teresa Ruivo
05 de abril - João Catarino
Desafio Quarentena Desenhada

Devido à grande adesão à #quarentenadesenhada será o desenho mais comentado neste desafio o escolhido para figurar no cabeçalho do blogue USkP.
O desenho mais comentado de março foi da autoria da Rosário Félix :

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