Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


Pensamos que o Diário Gráfico melhora a nossa observação, faz-nos desenhar mais e o compromisso de colaborar num blogue ainda mais acentua esse facto. A única condição para colaborar neste blogue é usar como suporte um caderno, bloco ou objecto semelhante: o Diário Gráfico.


Neste blogue só se publicam desenhos feitos de observação e no sítio

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Barbaridades numa barbearia

Não gosto de barbeiros, de barbearias. E a razão não é nenhuma. Só a falta de pachorra. Já tenho uma boa dose de falta de paciência, é verdade, mas tudo aquilo que soe a sala de espera, desespera-me. Não tenho paciência para revistas de há dois anos e para estações de rádio de há trinta. 
Também, não metam conversa comigo. Não é por mal. Não tenho nada contra ninguém. Não me perguntem as horas, nem como vai o país, nem sequer qual me parece ser o melhor candidato às presidenciais. Não me perguntem porque não tenho pachorra. Nas barbearias perco a pachorra. Também não perguntem o que faço. Não me apetece dizer agora que sou padre. Não me apetece e não é necessário.
Em silêncio – seria aquela resposta que eu um dia gostaria de ter a coragem para o dizer – quando me perguntam como é que hoje vamos cortar o cabelo.
Desta vez se pudesse ser em silêncio, agradecia.
Mas, não posso. Seria uma barbaridade.

6 comentários:

Ana Crispim disse...

Muito bom. Gostei da história... Eu também prefiro o silêncio

Rita disse...

AHAHAHH Adorei a história e o desenho!
Eu também! Felizmente, nas horas em que lá apareço não está muito gente e eu agarro-me afincadamente ao tablet que levo sempre comigo para parecer que estou a ler e a fazer coisas muito importantes para ninguém meter conversa comigo! Recomendo que levem livros e que os leiam ou finjam que os estão a ler atentamente. Ou então, sim que desenhem, fingindo naquele "caderno de apontamentos" onde estão a trabalhar afincadamente e profissionalmente. Mantenham um ar sempre sério e concentrado como quem está a fazer as maiores reflexões laborais. RESULTA!!
Melhor ainda é levar também phones daqueles com borrachinhas e colocá-los para funcionarem como tampões para os ouvidos ou mesmo para ouvir música/rádio. Com todo esse aparato profissional e phones assim ninguém se mete convosco e não têm que ouvir barbaridades e cusquices sobre a vida de terceiros.



Rita disse...

Quer dizer... eu nunca fui ao barbeiro... Costumo ir a cabeleireiros mistos, mas imagino que o ambiente ainda é pior para partilha de "barbaridades" no local que frequento...

Pedro disse...

Padeço do mesmo mal, mas os desenhos ficaram óptimos.

Teresa disse...

A procura do silêncio, na cidade cada vez mais cheia de ruídos. E não são os ruídos próprios da cidade que me afligem, mas as pessoas a falarem e dizerem tão pouco ! Faço essas reflexões, geralmente nos transportes públicos, e nas salas de espera. Gostava tanto quando se podia ler um livro, rodeada de silêncio...

Bom domingo. Estou a aproveitar um momento de silêncio, aqui na minha sala. Provavelmente os vizinhos sairam...

Marcelo de Deus disse...

"Deus" só dá pentes a quem não tem cabelo... Barbearias:

Eu que tanto as queria frequentar...
e não me resta senão pêlo
levo o meu filho a cortar
lá o seu próprio cabelo
e me limito a desenhar...