Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Serra d'Arga





No passado dia 28 fui à Serra d’Arga com o intuito de (finalmente) encontrar as Minas. Por diversas vezes, sem sucesso, tentara chegar a esta zona. Aparece nos mapas dos percursos pedestres mas nenhum deles a cruza. Desta vez decidi orientar-me mais pelo sentido de orientação e, sabendo (mais ou menos) a zona em que se encontram, achei que não seria muito complicado ir até lá. Há uns meses atrás, quando fiz o trilho do Cabeço do Meio Dia, passei lá perto enquanto andava perdido. A última parte do percurso foi feita com alguma pressa pois o sol já estava a desaparecer por trás da montanha e não era boa ideia andar no meio do monte, sem conhecer nada, sem luz, à procura do caminho de volta. Voltei à mesma zona. Sabia que as Minas situavam-se algures a Nordeste do Moinho de Baixo.

O meu interesse nas Minas prende-se com a sua história. Na Serra d’Arga, depois da forte desflorestação provocada por uma actividade intensa de pastoreio e exportação de madeira para a construção de naus, foram implementadas medidas de controlo destas alterações. Em 1940, o Estado Novo implementa o Plano de Povoamento Florestal retirando a gestão dos terrenos baldios à população local e penalizando a actividade pastoril. Perante isto, as populações abandonam a Serra e os que ficaram (entre a década de 40 e 70) trabalhavam para os serviços florestais e para as industrias mineiras de exploração de Volfrâmio. Volfrâmio este que, segundo a população local, era vendido em Caminha. Posteriormente, este Volfrâmio seria utilizado para o fabrico de armamento para a II Guerra Mundial e depois para a Guerra Colonial.

Cheguei a Arga de Baixo e fui imediatamente até à Ponte do Carro Novo. De lá teria que encontrar o caminho até ao Moinho de Baixo. Foi simples… Depois observei atentamente a zona montanhosa a Nordeste à procura de indícios da presença das minas. Nada. Teria que me aproximar mais e, para isso, teria que passar para o outro lado da margem do Ribeiro de Arga. Voltei para trás até à Ponte de Carro Novo, atravessei para o outro lado e comecei a caminhar, junto ao ribeiro, até à zona do Moinho de Baixo (agora do outro lado do ribeiro).

Encontrei uma grande lagoa. De todas as que já vi nos percursos pela Serra, esta é a primeira suficientemente ampla para tomar um bom banho. Eram cerca de 12h30 e claro que nem sequer meti lá a mão porque nem tinha coragem de tirar as luvas… Queria encontrar as Minas e sabia que estariam algures a Nordeste do sítio onde me encontrava. Comecei a subir uma pequena colina nessa direcção procurando trilhos que me guiassem. Ao longo do caminho não encontrei nenhum indício da presença das minas. Parei, consultei melhor o mapa, e encontrava-me no sítio delas, precisamente entre o Moinho de Baixo à minha esquerda, o Cabeço do Meio Dia, ao longe, à minha direita, o abrigo de montanha do Clube Celtas do Minho à minha frente e Arga de Baixo atrás. Nada de Minas, apenas a paisagem comum da Serra d’Arga. Pode ter sido impressão minha, mas apenas reparei que o granito era ligeiramente diferente do que se encontra em muitas outras zonas da Serra. Aqui parecia que o granito era mais rico em minerais ferro-magnesianos… a sua coloração era mais escura e encontrei poucos vestígios de quartz em meu redor. Sentei-me numa grande pedra a apreciar a paisagem e a fazer um registo da vista para o Cabeço do Meio Dia.

Depois retomei o percurso pedestre do Cabeço do Meio Dia a partir da zona onde tinha andado perdido rumo ao Lugar da Gândara. Pelo caminho percebi o erro e retomei o percurso passando agora pela Ponte e o Moinho das Traves. Quando cheguei a Gândara parei para fazer um registo. Um pastor aproximava-se com o rebanho. Ele passou, mas as ovelhas ficaram todas atrás de mim a cerca de um metro. Disse-lhe: “É por eu estar aqui?” ao que ele respondeu: “Vêem gente estranha, já se sabe né?”, enquanto falava com elas mandando-as seguir em frente. Depois de passar a primeira, as outras foram todas atrás e eu apenas tive tempo para registar algumas enquanto subiam pela estrada.

Pouco tempo depois um outro pastor aparece com o rebanho descendo a rua. Ficou ali à minha beira enquanto as ovelhas pastavam junto ao ribeiro. Este foi o último desenho do dia…

Eram cerca de 16h00.
Serra d’Arga, Portugal, 28.01.2012

7 comentários:

hfm disse...

Tiago, esta Serra e estes desenhos dariam um belo livro. Fica uma sugestão.

Pedro disse...

Devem ser umas minas movediças... Óptimos desenhos e crónicas.

Mário Linhares disse...

O último desenho, pendurava-o na minha sala!

Excelente trabalho escrito e desenhado!

Rosário disse...

O que se aprende com estes registos!

Tiago Cruz disse...

Obrigado pelos vossos comentários…!

Maria Celeste disse...

...Tiago,obrigada...
...estava triste e já não estou...

Tiago Cruz disse...

Obrigado eu Celeste. Fico contente que os meus desenhos tenham esse efeito!