Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


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domingo, 21 de agosto de 2011

Fluviário de Mora

Aproveitando a pausa de almoço dos trabalhos do atlas de aves invernantes e migradoras, fui até Mora.

Deixei Coruche para trás passando por anúncios do festival off road Coruche 2011 (que pena já ter passado, fiquei curioso sobre o "passeio off road nocturno com caça ao pirilampo" - promissor, não?). Na rádio voz do Sorraia alguém com sentido de humor particular passava sucessivos sucessos natalícios, uns atrás dos outros - o que, convenhamos, se adequava bem ao tempo tormentoso que estava, não fosse o calor e eu próprio ficaria perfeitamente convencido que a quadra se aproximava a passos largos.

Cheguei a Mora, na senda do fluviário e descubro que o dito não fica bem em Mora, fica mais para os lados do Cabeção. Tudo bem, a viagem até lá vindo de Coruche é bem bonita, subindo o vale do Sorraia - recomendo vivamente.

Foi a primeira vez que visitei o fluviário de Mora, e não sendo grande fã de zoológicos, achei interessante. Mais ainda pois a temática de peixes de água-doce portugueses não é fácil, uma vez que na maioria das espécies se tratam de bichos de pequenas a médias dimensões e cores apagadas. A exposição está cuidada e simples de seguir, os aquários eram bonitos e bem mantidos e os peixes estavam com muito bom aspecto. Pensei que podia fazer uma página de cabeças de peixes (e tirar algumas notas para projetos futuros). Sentei-me a desenhar alguns deles.





Ruivaco, Bordalo, Cumba e Enguia - Fluviário de Mora

Comecei por um Ruivaco, um pequeno ciprinídeo com a base das barbatanas encarniçada, endémica de Portugal. De esta espécie (e já que estavam no mesmo tanque), passei para um Bordalo - desta vez um endemismo ibérico. E desta, para uma Cumba (não cumbia!), um barbo que pode alcançar um metro de comprimento, endémica do sudoeste peninsular. Sendo a nossa fauna piscícola dulciaquícola nativa (apre!) constituída essencialmente por espécies herbívoras e insectívoras, a Cumba é uma excepção (sobretudo os exemplares de maiores dimensões como o que foi desenhado) pois incorpora muitas vezes na sua dieta pequenos peixes. Por último, uma espécie que dispensa apresentações, a Enguia.

A exposição vai alternando entre espécies nativas e exóticas, sendo estas últimas responsáveis por extinções locais (e de extinção local em extinção local, até à vitória final...) de muitas espécies - algumas que não se encontram em mais lado nenhum do mundo. Mas os pescadores querem fazer desporto (!?) e levar grandes Achigãs para casa (diz que dá luta, que o desporto (!?) é ainda mais desportivo (!?)), e portanto cuidam de introduzir tudo em todo o lado. E quem diz Achigã, diz Lúcios, diz Lúcio-perca, diz peixes-gato como o peixe-gato-gigante (diz que chegam aos 3m)... E como as espécies nativas não têm o carisma, digamos, de um panda-gigante, pouco importa que se extingam. Mais a mais vivem lá debaixo de água, onde nem as vemos. E longe da vista, longe do coração. Quanto vale uma extinção, afinal? Curiosa também é a associação da EDP a este projeto, uma vez que a construção de barragens é uma das causas de mudança nos habitats fluviais e consequente impacto nas espécies de peixes (e não só) - e com mais barragens projetadas para breve. Precisamos de energia, é certo, mas não seria preferível reduzir consumos, em vez de continuar a consumir mais e mais..? Enfim, tempos estranhos estes...

A última parte da exposição encontra-se reservada a espécies sul-americanas e africanas. Não resisti a desenhar esta Mata-mata (era disto que falava Scolari..?), com a sua expressão cómica (aposto que os pequenos peixes que lhe servem de alimento discordam da comicidade da dita).




Mata-mata, Chelus fimbriatus
Para quem não conhece, vale a pena conhecer o fluviário de Mora. E pensar nisto dos nossos rios e das nossas espécies. Que património natural também é património. E que extinções são, infelizmente, para sempre.

2 comentários:

hfm disse...

Gostei de conhecer, gostei de ver, gostei sobretudo de ler. Gosto da forma como contas e do humor.

Fred Barreto disse...

Grande trabalho.