Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


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sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Nariz de Santo



Eu não frequentei qualquer escola pré-primária, frequentei a melhor do mundo, o Posto Agrário de Lamaçães. E a minha educadora de infância foi a minha imensa avó Amélia. 

Não imaginem uma doce e serena senhora de idade, construam no vosso pensamento a imagem de uma jovem de quarenta e um anos, trabalhadora desde os cinco, vigorosa em porte e atitude, forte de braços, mãos e dedos e com a pele grossa e escura do sol.  

A minha avó nunca perdia tempo porque não o tinha e porque havia sempre trabalho à sua espera, mas andava comigo por todo o lado, nunca me perdia de vista, mesmo quando eu me perdia.

O dia arrancava cedo com a missa, continuava de manhã no campo, avançava para a tarde no campo e terminava na escola. Foi lá que aprendi a soletrar e escrever "pa-ne-la", a minha primeira palavra lida e escrita, muito antes da minha primeira classe. 

Eu imitava-a em tudo. 

Bem, em quase tudo. Eu tinha o gosto de fazer  tudo muito perfeitinho, a minha avó preferia só muito bem e rápido. 

Dizia-me muitas vezes que perfeitos, só os narizes dos santos. Só os santos têm que aparentar a perfeição, de outra forma seriam iguais a nós, imperfeitos. 

A montra da Casa dos Terços,  cheia de presépios e anjos, fez-me lembrar estas conversas académicas entre mim, a aprendiz, e a minha avó, a professora. 


Eu imitava-a em tudo.

1 comentário:

João Santos disse...

Bela composição! A história então está um mimo!