Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


Pensamos que o Diário Gráfico melhora a nossa observação, faz-nos desenhar mais e o compromisso de colaborar num blogue ainda mais acentua esse facto. A única condição para colaborar neste blogue é usar como suporte um caderno, bloco ou objecto semelhante: o Diário Gráfico.


Neste blogue só se publicam desenhos feitos de observação e no sítio

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Silveira_entre a terra e o mar

A silveira é uma freguesia do município de Torres Vedras, cujo território se divide "entre o campo e o litoral". Ultimamente tenho dedicado parte do meu tempo a conhecer melhor a freguesia onde vivo desde sempre. Pensamos que conhecemos, mas quando começamos a olhar com olhos de ver, percebemos que há uma imensidão de lugares a explorar.
 
Na passada 6ª feira, feriado, fiz uma caminhada, que me habituei a fazer desde muito pequeno, partindo da casa dos meus avós e pais (Boavista), até ao Alto da Vela.
 
A primeira paragem foi o Casal dos Corvos, ou pelo menos o que resta dele. Este casal pertence à família do meu avô há pelo menos 400 anos. Hoje, já não temos qualquer ligação, resta-nos a ligação afectiva. Ver o estado em que se encontra deixa-nos frustrados. Restam-nos as memórias. O poço de água, onde a minha tia-avó Germana tirava água para regar os seus belos jardins e enchia o tanque para lavar a roupa. O poço era um verdadeiro centro comunitário, uma verdadeira festa. Nos dias de calor o tanque transformava-se em piscina. Morreu a tia-avó, morreram as flores, ficam as memórias.
O Curral das ovelhas do tio-avô Joaquim Gigante está à venda. A ruína tomou conta dele. Em tempos foi abrigo de um dos maiores rebanhos da freguesia, cerca de 100 ovelhas e 20 cabras. Em tempos representava vida, hoje a morte, a morte da pastorícia, mas pior que isso, a morte dos últimos pastores do Casal dos Corvos: Joaquim e Germana.
 
 
O Casal dos Corvos, para além do casario tinha um conjunto de terras que se estendia até ao Alto da Vela. As terras também têm nome: Terra da Vinha; Rodelo; Cabeço das Mamas; Poço das Vacas... Parte dessas terras ainda se mantém na família, onde o os meus avós têm um pequeno casal com animais e hortas. A chuva floriu os campos, com cores de uma beleza única e inconfundível. A memória leva-me a viajar no tempo, o tempo em que eu vinha com os meus primos apanhar a espiga, o tempo em que vínhamos brincar por entre os campos de trigo, o tempo das vindimas, o tempo da apanha da batata e o almoço comunitário na fazenda entre proprietários, família, amigos e trabalhadores.
 
 
Com a idade íamos ganhando a confiança dos nosso pais e avós e íamos "conquistando o nosso território". O céu era o limite, neste caso era o Alto da Vela o nosso fruto proibido, pela distância e pelo perigo das arribas. Uma verdadeira aventura. 
 
 
 
Não vos canso mais com esta minha viagem nostálgica.
 
 

4 comentários:

Alexandra Baptista disse...

Cansar?
Um regalo é o que é.

Eduardo Salavisa disse...

Que memórias André! E resgatadas pelo desenho. Delicioso.

Teresa disse...

Gostei muito !

Suzana disse...

Gostei muito desta viagem André :)