Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


Pensamos que o Diário Gráfico melhora a nossa observação, faz-nos desenhar mais e o compromisso de colaborar num blogue ainda mais acentua esse facto. A única condição para colaborar neste blogue é usar como suporte um caderno, bloco ou objecto semelhante: o Diário Gráfico.


Neste blogue só se publicam desenhos feitos de observação e no sítio

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Momentos no bairro do Vale Fundão


É um bairro em que as casas acabaram de ser construídas pelos próprios moradores. Nos dois dias em que lá fui vieram ter comigo pensando inicialmente que eu fazia parte de alguma entidade pública, o que faz com que a conversa vá logo para assuntos do bairro. Quando fiz o primeiro desenho fiquei a saber que tinham andado a limpar os pinheiros, cortando os ramos que poderiam trazer algum risco para as casas próximas, mas ainda assim o discurso do homem com que falei favorecia o corte radical das árvores. Conversámos e ele pareceu-me ficar a pensar em algumas coisas que lhe disse.
Ao fim de muitos anos de actividades de proximidade com associações locais, apercebi-me que as árvores estão quase sempre num lugar de fragilidade perante o modo de pensar mais comum.
Estes pinheiros são lindos e fazem uma bordadura à paisagem com as suas altas copas, que neste desenho não se vêem.


Voltei ao bairro, mas sem grande vontade de repetir um desenho de vistas. Quando vi um grupo de homens sentados nos bancos de jardim a conversar, decidi logo aproximar-me deles para desenhar.  Conversámos um pouco e o senhor da esquerda lembrava as suas primeiras impressões quando chegou a Lisboa vindo da província. Recordava ter dito a um amigo que ali havia muitas casotas de coelhos, ao que o amigo lhe respondeu que ali viviam pessoas. Referia-se às barracas que então havia em Lisboa.
Quando eles começaram a debandar, por se aproximar a hora de jantar, houve uma senhora muito simpática na sua bata de flores, que se aproximou, e depois de conversarmos um pouco teve o cuidado de perguntar se eu queria um copo de água, e mais tarde, ao passar a carrinha do pão, trazendo um saco com carcaças, me veio perguntar se eu quereria que me preparasse uma sandes de queijo.
Senti-me acolhida por esses e outros gestos de proximidade e calor humano.

2 comentários:

Paulo J. Mendes disse...

Estou maravilhado com estes desenhos.

André Duarte Baptista disse...

uma beleza de desenhos e texto. parabéns