Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


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terça-feira, 29 de agosto de 2017

Cais da Trafaria e uma reflexão sobre Urban Sketching



O Cais da Trafaria não é bem assim, como se vê na fotografia. Falta-lhe uns pedaços aqui e ali, mas quem conhece o local consegue reconhecê-lo. Para mim o Urban Sketching é cada vez menos representar fielmente o que observo. É mais usufruir do acto de desenhar e de pintar, representando o que sinto no contexto do desenho (nesta tarde, sentia-me uma garota “naïf” a brincar com a aguarela e os lápis-de-cor). Ser Urban Sketcher também é inventar um bocadinho para facilitar ou para ter esse espaço de transgressão em relação à realidade. É ainda explorar os lugares, representando-os com técnicas e materiais diferentes, numa incessante procura de soluções.



O momento desta dupla página e toda esta tarde tão bem passada são o que de melhor tem a comunidade de Urban Sketchers Portugueses: as pessoas. Desenhar é um veículo para atingir um fim com uma estranha dualidade. Por um lado, é desaparecer para dentro de mim numa partilha única de silêncios agradavelmente estranha. Por outro, é divertir-me, virando-me para fora num encontro colectivo de partilha com sorrisos e boa disposição.




Esta dupla página tem um aspecto de que não gosto: a mancha de aguarela no centro. Acontece quando existe o meio do caderno, mas principalmente quando se usa muita água e o papel não é o mais adequado para a técnica aplicada – uma aguada destas precisa de papel com qualidade e de 300g/m2. Assim, perdeu-se a continuidade, o fluxo, de uma página para a outra. Enfim… adoro experimentar tintas, pincéis e papéis… Se não experimentarmos não descobrimos o que nos faz falta e o que se adequa às nossas características e interesses. Sendo assim, querido papel Claire Fontaine 180g/m2 de faces diferentes, volta! Sinto-te a falta no contexto do diário gráfico.

Ser Urban Sketcher é ser curioso e ter um desejo incessante de conhecer os lugares de passagem e de evoluir, sempre de caderno na mão. É representar o mundo como o vemos e sentimos num momento – ou como gostaríamos de o ver e sentir – e não a realidade.

Texto publicado ALI


No mesmo dia em que escrevi este texto,
encontrei outro muito interessante
da Urban Sketcher Jane Wingfield:
Falling in love with the world, one sketch at a time

9 comentários:

Eduardo Salavisa disse...

Nem mais! É desenhar o tempo, aquele tempo.

Rosário disse...

Gosto muito do desenho apesar da mancha e muito mesmo do teu texto!

João Santos disse...

Adoro este estilo de registo tanto quanto a tua reflexão!

hfm disse...

Gosto. Muito. E muito do último parágrafo.

Marilisa Mesquita disse...

Gosto tanto quando partilhas estas tuas reflexões connosco :)

Suzana disse...

Mas está tão bonito Rita, gosto muito e gosto das tuas reflexões!!

Teresa Ruivo disse...

Grande Rita! Apoiado a 100%!

Ana Crispim disse...

Pois... tal como conversámos. É isso mesmo!

Rita Caré disse...

Obrigada a todos :)
De vez em quando gosto de escrever sobre este assunto, porque continuo a questionar-me sobre porquê que os rabiscos estão sempre presentes e há tanto tempo. Acho que é a actividade mais duradoura na minha vida, com presença constante, que alguma vez tive!