Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


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segunda-feira, 19 de junho de 2017

Porto Sentido_dia I

4 dias no Porto, muito passeio e muitos desenhos.

A maioria dos desenhos foram feitos ao ritmo que mais gosto. rabiscos rápidos no momento. As cores foram na sua maioria, aplicadas à noite já no hotel.

Ficámos no hotel S. José, na esquina entre a Rua da Alegria e a Rua de Fernandes Tomás, onde se encontram as primeiras "vítimas" do meu olhar:

à esquerda, a Capela das Almas de Santa Catarina, cuja fachada principal fica orientada para a famosa Rua de Santa Catarina.  A construção inicial data do início do séc. XIX. As fachadas são todas revestidas a azulejo (1929), produzidos pela fábrica Viúva Lamego.

à direita, parte da fachada do mercado do Bolhão, a partir da rua. À tarde está praticamente encerrado, pelo menos o interior. A visita fica para o dia seguinte. O desenho é feito na Rua formosa. Atrás de mim fica a antiga mercearia do Bolhão e a Pérola do Bolhão, que ainda mantêm as montras antigas, em madeira, tal como o seu interior.


Entro novamente na Rua Santa Catarina, cheia de esplanadas, tendas (artesanato e chapéus) e claro, muitos turistas. A voz mais falada é o português, mas o português adocicado dos brasileiros.

Ao fundo da Rua, deparamo-nos com um dos ex-líbris da cidade - o Café Majestic, inaugurado no ano de 1921, nessa altura ainda com o nome de "Elite". Trata-se de uma obra de autor, do arq. João Queiroz, ao estilo da Arte Novo, construído em plena Belle Époque. Esta rua era a zona mais central da cidade, para onde convergia a elite portuense. Este espaço era mais do que um café, era um espaço de tertúlias de políticos e pensadores, de artistas e poetas. A fachada e o interior ainda mantém a identidade, quanto ao público, hoje a sua maioria são turistas, que ali se sentam, não tanto pelo que comem e bebem, mas sim pelas selfies e pela possibilidade de dizerem "eu sentei-me no Majestic". Ficámo-nos pela rua...

Descemos a R. 31 de janeiro até à Estação de São Bento. Rua (muito inclinada), que junta peões,  automóveis e ainda o elétrico. E funciona tão bem.. Ao longe, no alto, vislumbra-se a Torre dos Clérigos, que nos pisca o olho, mas tem de ficar para mais tarde. O mesmo aconteceu com a Estação de São Bento e a Igreja de Santo António dos Congregados, também ela toda revestida a azulejos.

Subimos a Av. Dom Afonso Henriques, sentido à Sé do Porto. Na zona frontal da Sé, um verdadeiro miradouro sob o Douro, uma vista de cortar a respiração. Não há tempo para "panorâmicas), concentro-me na Sé e a sua relação com o "torreão" (esq.) do arq. Fernando Távora. Trata-se da famosa "Casa da Câmara/Casa dos 24", integrada no plano de abertura do terreiro da Sé. Esta peça arquitetónica assume-se como um manifesto, sobre a necessidade de relação entre o moderno e o antigo, entre arquitetura e o Lugar.


Descemos pela rua de Dom Hugo, antiga Rua Escura, como o lembra o antigo chafariz com o mesmo nome. As escadas vão dar à ao Largo do Colégio, onde se encontra a Igreja de São Lourenço / "Grilos" (em obras).  Seguimos pela estreita e pitoresca Rua da Bandeira, enfeitada para o S. João. Várias casas reabilitadas para alojamento local. A boa notícia é que ainda tem muitos moradores portuenses de gema. Esta rua desemboca da Rua da Bainharia. Passada a travessa com mesmo nome, entramos na rua de S. João, mais uma rua bem inclinada. Aqui a vista é desafogada - lá em baixo a Praça da Ribeira e melhor que tudo, o Douro que nos chama.

A praça está cheia, uma verdadeira confusão: esplanadas, turistas, automóveis, pontos de turismo (passeios de bus e de barco), artistas de rua. A vista sob o rio compensa tudo. À nossa esquerda, a secular ponte D. Luís que neste momento está  ser beijada pelo sol, em jeito de despedida.

Percorremos a frente ribeirinha, até à ponte. Sentados na esplanada do Bar Ponte Stencil, o desenho era inevitável.  A ponte, os barcos turísticos e o reboliço em torno dos jovens que se atiram da ponte e se banham no rio. Um fim de tarde inesquecível, vindo à memória música do Rui Veloso:

" Quem vem e atravessa o rio
Junto à serra do Pilar
vê um velho casario
que se estende até ao mar

Quem te vê ao vir da ponte
és cascata são-joanina
erigida sobre um monte
no meio da neblina. (...)"

No regresso ao Hotel, uma nova abordagem à ponte.
Ainda houve coragem para entrar na Estação e registar o momento.





9 comentários:

Celeste Vaz Ferreira disse...

Belos desenhos texto!

abnose disse...

Grande reportagem! Belos desenhos!

Ketta disse...

Gosto desta reportagem despreocupada em que se nota o gosto pelo desenho :)

Marcelo de Deus disse...

Até tira o fôlego!!!

nelson paciencia disse...

Muito bom o desenho da Sé!

Bruno Vieira disse...

Gosto especialmente dos primeiros, a cor contida também vai resultando muito bem. Boa reportagem

Ana Crispim disse...

Muito BONS e descontraídos...

Pedro Alves disse...

Está demais meu caro, o desenho da Sé ficou incrível!

André Duarte Baptista disse...

Muito obrigado pelas vossas simpáticas palavras. um abraço