Há um certo ambiente familiar e, ao mesmo tempo, cosmopolita, na cidade de Helsínquia. Por um lado, as ruas são silenciosas, com gente a esperar ordeiramente na passadeira pelo semáforo verde, mesmo quando não há carros. O sentimento de segurança quase persegue, num país onde virtualmente não há pobreza nem crime, e de onde dificilmente sairão manchetes de jornais. Porém, estes antípodas da Europa começam a ser descobertos pelo turismo, tal como na ocidental praia lusitana. Os turistas japoneses e coreanos enchem os aviões e os principais monumentos, parecem ter encontrado pontos de afinidade cultural, seja na arquitectura de madeira, no minimalismo hedonista, nas bebidas quentes e até mesmo na sauna. Ver para crer.
E por falar em fé, ia rezar no Domingo de Páscoa, quando encontrei a sé católica cheia de turistas coreanos. A multidão enchia meio adro e as paredes da igreja claramente ficavam aquém da afluência dos crentes.
Tive de recorrer às igrejas protestantes. Duas delas são bastante singulares e merecem uma visita demorada e meditativa. A capela do Silêncio (Kampin kappeli) fica numa das mais movimentadas praças da cidade, onde as pessoas correm para apanhar os autocarros. Mas lá dentro, a leveza da clarabóia e o peso dos sedimentos de madeira que ali gravita, faz-nos submergir literalmente no silêncio e na introspecção.
Mas o templo que mais me marcou talvez tenha sido a Igreja na Rocha, ou Temppeliaukio kirkko. Está num bairro pacato, arrumado a régua e esquadro, até que se chega a um inesperado cabeço de granito, que os prédios teimam em não cobrir. Afinal, o monte é a igreja, toda ela escavada na rocha. Só a cúpula a denuncia. E lá dentro, só a paz reveste a nudez do granito. Vale realmente a pena.
2 comentários:
Que belo registo
grandes desenhos, belas reflexões!
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