Assumir o erro
Além de tentar cumprir a proposta do Luís (pormenor/contexto/legenda), procurei também não fazer desenhos bonitos. O suporte utilizado (caderno), o tempo disponível, o fato de desenhar de pé, tal não propiciam. O próprio meio riscador foi escolhido intencionalmente para não poder voltar atrás, não poder apagar (há anos que não utilizava uma BIC). Assim, tudo ficou lá, todos os arrependimentos, as linhas interrompidas, o inacabado, a indecisão.
Seria mais fácil mostrar desenhos bonitos do que estes desenhos, no entanto, estes contêm muito mais sobre desenho do que aquilo que à partida pode parecer, por exemplo, o movimento do traço, a ação do meio (caneta) sobre o papel, o acidente, o erro.
Segundo um sentido primordial
e etimológico, o erro pode ser entendido como procura, o ir ao encontro de (VAAN,
M. 2008, 194 apud COSTA, 2015*) e o
desenhador impelido de uma vontade, a de arriscar no jogo do erro (Derrida), precipita-se
ao encontro da própria impossibilidade do desenho, no seu próprio traçar. Assim, voluntariamente
em erro, movida dessa vontade, gozei da experiência colocando de lado a preocupação do resultado.
* COSTA, Diego Rayck da. Desenho: Pretensão, erro e ruína, Tese
de Doutoramento, Univ. de Coimbra, 2015, 312.
Cenas da Paixão de Cristo "Flagelação de Cristo", figuras detalhadas e contexto, MAC. |
Cenas da Paixão de Cristo "Flagelação de Cristo", figuras detalhadas (figura de Cristo), MAC. |
Pormenor e contexto. Ruína sobre a porta de entrada do Museu, MAC. |
4 comentários:
Dilar, como gostei do que escreveste. E como gosto destes desenhos, onde a procura se faz sentir e torna-os mais humanos.
Gostei desta tua abordagem. Mais do que traços errados, acho que os desenhos ganharam expressividade.
E obrigado de teres aparecido. :-)
Também gostei muito do que escreveste Dilar! E estão tão expressivos!
Obrigada a todos, pelos comentários. Fui uma boa sessão, Luís.
É um local fantástico a ser desenhado. Hei-de repetir :).
Enviar um comentário