Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Challenge XXVIII

Atravessei Monsanto a caminho de Belém. Vi um esquilo morto. Pensei parar para o recolher, mas não parei. No regresso tornei a atravessar Monsanto. Por outra estrada. Vi um esquilo morto. Desta vez parei para o recolher, desenhar e posteriormente entregar no Museu Nacional de História Natural.


Esquilo vermelho (Sciurus vulgaris), encontrado morto no Parque Florestal de Monsanto


Encontrar dois esquilos mortos no mesmo dia pareceu-me extraordinário (se calhar nem é), e enquanto matutava sobre isto lembrei-me da existência deste desafio. Provavelmente não pararia para desenhar um cão morto. Ou um gato. Muito menos uma pessoa - ou melhor, pararia claro, mas não desenharia.

Como se desenha a morte então? Arbitrariamente. E com pruridos. E de várias maneiras possíveis. Esta é das (a?) mais terra-a-terra. Parece-me que foge ou apenas tangencialmente toca o tema proposto. Mas de certa forma, e pessoalmente, responde-o. Não sei se é só isto - suspeito que seja só isto. E que acaba assim.

9 comentários:

Galeota disse...

...Mesmo de noite./Aquela viva fonte que desejo,/Neste pão de vida já a vejo,/ Mesmo de noite.

São João da Cruz, Poesia 8

Anónimo disse...

ver a morte à frente dos olhos, faz-nos sempre pensar na nossa.

gosto muito deste registo.

"Desta vez parei para o recolher, desenhar e posteriormente entregar no Museu Nacional de História Natural."

Fazes parte do Museu ou esta é a conduta correcta a ter perante um animal assim?

~

PeF disse...

AG: Não faço parte do Museu, apenas tento ajudar como posso - neste caso fornecendo exemplares em boas condições para as colecções. É uma contribuição voluntária, um pequeno exercício de cidadania por e para uma instituição que nos pertence a todos - e que gostaria de ver retomar o brilho de outras épocas.

Se o animal estiver em boas condições, é de considerar levá-lo. Geralmente costumo entregar apenas aves, que me é mais simples saber do interesse ou falta dele para as colecções. No caso dos restantes, tenho de perguntar se há interesse ou não.

Deixo aqui a informação dos responsáveis pelas colecções do MNHN:

http://www.mnhn.ul.pt/zoologia/p.htm

Uma outra instituição à qual cheguei a entregar exemplares é a secção de Zooarqueologia do Instituto Português de Arqueologia. Aqui os exemplares passam a integrar uma impressionante colecção de ossos, bastante útil para comparações com achados arqueológicos. Desconheço se ainda aceitam espécimes.

Isabel disse...

SE não tivesses encontrado o segundo nunca teriamos tido este registo nem o Museu o seu exemplar. Muito dramatica esta escolha de cores que retrata bem a nossa relação com a morte.. o manto negro que nos cobre.

Anónimo disse...

PeF, não estava de TODO alerta para esse facto tão importante.

Vou-me informar devidamente para que de algum modo possa contribuir caso me depare com uma situação semelhante.

~

PeF disse...

Isabel: pois é, ainda resisti ao primeiro, ao segundo já não deu - parei o carro e lá fui eu com um saquinho de plástico que anda sempre a postos para ocasiões destas. Há que aproveitar as oportunidades para recolher material de referência, nunca se sabe quando terei de desenhar um esquilo.

AG: Desde que os exemplares estejam em bom estado, creio que serão sempre bem recebidos. Mesmo que tarde o seu processamento ou que não seja material para exibição, fica para as colecções de referência das instituições.

Luís Ançã disse...

Também gosto muito deste registo. Por todo o envolvimento. Pela apurada técnica de pintura, também.

zeta disse...

Para além de atitude intelectual, educada, julgo que o PeF nos ensina a transmitir um pouco de felicidade, de dignidade até, a estes seres inanimados ou mesmo mortos, alguns dos quais se calhar visivelmente repelentes.

PeF disse...

Luís e zeta: muito obrigado. Confesso que não considero um esquilo um animal nada repelente - mas a diferença para uma ratazana faz-se por uns quantos pêlos na cauda. Engraçado como um pormenor simples como este faz variar o nosso apreço por dois animais semelhantes.